quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Uma vinheta da eleição paulistana, por Elio Gaspari


Em agosto, quando o candidato Fernando Haddad prometeu a criação de um Bilhete Único Mensal, pelo qual o cidadão poderia comprar um passe livre para os ônibus municipais, a marquetagem tucana acusou-o de propor uma taxa, um "bilhete mensaleiro".
Dividia-se o eleitorado em dois grupos. Um, que já foi a Londres, Nova York ou Paris e sabia que esse tipo de bilhete com desconto não é uma taxa, pois ninguém é obrigado a comprá-lo. Noutro grupo estava a população que usa os ônibus. Para ela, bastava fazer a conta: se o novo bilhete custar R$ 150 e o cidadão fizer duas viagens por dia, a tarifa de R$ 3 cai para R$ 2,50.
Com o início da propaganda eleitoral gratuita Haddad tinha 16% nas pesquisas, bem atrás dos 35% de Celso Russomanno, que sobrevivia ao raquitismo de seu tempo de exposição e de uma ofensiva de parte da hierarquia católica. Uma semana antes da eleição, o "fenômeno Russomanno" começou a evaporar. Na véspera, tinha 27% das preferências. Abertas as urnas, ficou com 22%, fora do segundo turno. O que houve? No final de setembro Russomanno prometera a cobrança de tarifas diferenciadas nas viagens de ônibus. Simples assim: quem anda muito pagaria mais, como quem viaja muito é o trabalhador, lá vinha tunga. Até hoje a explicação mais convincente para a implosão de Russomanno está na migração dos eleitores mais pobres. Perceberam o perigo e saltaram.
O tucanato, que condenara o Bilhete Único Mensal acordou e, no segundo turno, correu atrás, propondo a extensão da sua validade. Desde 2004, quando a prefeita Marta Suplicy foi a primeira a instituir essa modalidade de tarifa numa grande cidade brasileira, governantes e candidatos do PSDB olham para a iniciativa com cara feia. Primeiro porque criticavam-na nos seus aspectos técnicos. Depois, porque ela parecia coisa do adversário. Acordaram com oito anos de atraso.
É uma exagerada temeridade atribuir o resultado eleitoral de São Paulo ao item do Bilhete Único, mas certamente ele foi um dos ingredientes do naufrágio, pela percepção oferecida ao eleitorado. No primeiro turno uma parte dele saltou de Russomanno porque o doutor queria cobrar mais caro pelas tarifas de quem fica duas horas no ônibus para chegar ao trabalho. Não se deve esquecer que os transportecas da prefeitura defenderam a instituição do pedágio urbano para veículos sobre pneus numa cidade em que a municipalidade nada cobra pelos pousos de helicópteros. Com uma cabeça dessas, um candidato tucano poderá ganhar a eleição em Fort Worth, no Texas, pois lá está a fábrica das aeronaves Bell.
A renovação de que o PSDB precisa e que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vocalizou é de nomes mas, sobretudo, de ideias. Não só de propostas novas, mas sobretudo de uma faxina nas velhas, demofóbicas. Os candidatos do PSDB deveriam ser obrigados a usar a rede de ônibus todos os dias, durante pelo menos uma semana. A experiência valeria mais que sete seminários com ex-ministros tucanos reapresentando ideias de um governo que acabou em 2002. Algo como barões do Império amaldiçoando a República em 1899, durante o governo Campos Salles.
Elio Gaspari, nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por "As Ilusões Armadas". Escreve às quartas-feiras e domingos na versão impressa de "Poder".

    Tecido social, por Antonio Prata



     http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/1159307-tecido-social.shtml

    Reinaldo Boucinhas, 67, é engenheiro e está indignado com "essa corja do PT que dominou o país". Ano passado, Reinaldo teve a carta cassada por excesso de pontos. Foi ao despachante e por R$ 1.100 em três vezes sem juros, comprou uma habilitação limpinha, sem fazer o curso de reciclagem ou passar por suspensão. "Cê queria o que? Que eu ficasse um ano sem dirigir?! Eu trabalho, queridão, sou pai de família!" No vidro traseiro de seu carro, sr. Boucinhas tem um adesivo: uma mão sem o mindinho, sob o símbolo de proibido.
    Luciana Boucinhas, 33, é atriz, dramaturga e acabou de aprovar na Lei Rouanet um monólogo de sua autoria. "Istmo Holístico" arrecadará R$ 300 mil de isenção fiscal, dos quais Luciana embolsará 30, apresentando notas falsas de "despesas com transporte", arrumadas por seu namorado, empresário. "Nesse país, com arte de vanguarda, não dá pra viver de bilheteria, cara! Tô me financiando, cara! Tô financiando a arte, entendeu, cara?!"
    Rafael Galhardi, 42, é empresário e tem uma fábrica de embalagens biodegradáveis. A fábrica está numa área estritamente residencial. "Pra você ver como é esse país! Você quer produzir e não te deixam! Quer dizer... Fui obrigado a pagar propina pro fiscal liberar a fábrica! É foda! Esse país é foda!"
    Hélio Pereira, 55, fiscal da prefeitura e católico praticante. Confessa-se todo ano. Teme as chamas do inferno. "Mas você quer o quê? Que eu viva com o salário de funcionário público?! Eu sou só uma gota no oceano!" O padre da igreja que Hélio frequenta, felizmente, tem lhe acalmado. Com alguns pais-nossos, ave-marias e boas ações, ele jura, Hélio entrará no reino dos céus.
    Padre Osvaldo, 48, vê seu rebanho diminuir a cada ano, levado pela Igreja Internacional da Assembleia Divina, duas ruas abaixo. "Gente ignorante, gente corrupta, que só quer saber do dízimo!" Semana passada, padre Osvaldo recebeu uma boa notícia. Um de seus paroquianos, fiscal da prefeitura, conseguirá cassar o alvará do templo, expulsando os infiéis para outro bairro.
    Pastor Sandro, 31, é membro da Igreja Internacional da Assembleia Divina e está preocupado com esse lance do alvará. "A Igreja Católica deita e rola e ninguém faz nada, mas é o evangélico mexer um dedo que cai todo mundo em cima!" Por isso, pastor Sandro está agindo na surdina. Já falou com o Elias e o Sem Noção, seus amigos de infância, no Morro do Querosene, pra darem um susto no padre Osvaldo. "Só um susto. Vamos ver se ele recua."
    Sem Noção, 31, foi morto pela PM no último sábado com um tiro na nuca, numa quebrada do Querosene. Deixou uma moto, dez pedras de crack, cinco filhos e três viúvas.
    Major Augusto, 55, acaba de dar cinquentinha para que o Pedrão, do almoxarifado, libere pelo menos um.32 lá das apreensões, pra ele poder cravar um "resistência à prisão" na execução do noia. "Ó que paisinho?! Agora cê precisa de desculpa pra matar bandido!"
    Antonio P., 35, é escritor e deu R$ 50 pro major Augusto, em 1999, quando foi parado numa blitz com sua namorada, Margarida, e estava com o IPVA vencido.
    Margarida: tinha olhos azuis como bolas de gude e falava em viver na Itália. Que fim terá levado? 

    terça-feira, 30 de outubro de 2012

    Grupo Estado anuncia revisão de portfólio


    SÃO PAULO - O Jornal da Tarde deixará de circular por uma decisão empresarial, tomada para o aprimoramento do foco estratégico do Grupo Estado. A última edição sairá no dia 31 de outubro. A determinação leva em conta o objetivo de investir na marca Estadão com uma estratégia multiplataforma integrada (papel, digital, áudio e vídeo e mobile), para levar maior volume de conteúdo a mais leitores, sem barreira de distância e custos de distribuição.
    "Hoje, o meio jornal é a segunda mídia mais importante para a publicidade, com o dobro de participação do terceiro colocado. Daí a estratégia de focar no Estadão, principal marca do Grupo, e de investir em uma plataforma digital mais robusta e avançada", declara Francisco Mesquita Neto, diretor presidente do Grupo Estado.
    Mas a grande novidade estará num importante legado do JT: o Jornal do Carro, maior sucesso editorial do mercado de automóveis. A partir da próxima quarta-feira, dia 7 de novembro, o Jornal do Carro passa a circular encartado no Estadão, ampliado e com novas seções. O Jornal do Carro será a nova marca dos Classificados de Autos doEstadão também às quintas, sábados e domingos.
    O novo Jornal do Carro será uma plataforma multimídia de alcance nacional. Aos cadernos semanais publicados no Estadão se somarão, em 2013, um portal com o melhor conteúdo do setor, dicas de compra e exclusiva tabela de preços online, revistas sazonais e eventos, além do já existente programa aos sábados na rádio Estadão ESPN(FM 92,9 e AM 700).
    JT deixará de existir, mas suas principais contribuições permanecem no seu irmão mais velho, o Estadão. Os leitores do JT - que nos últimos anos se aproximaram do universo de leitores do Estadão - já podem perceber esta proximidade por meio da vibração e qualidade do caderno de Esportes, do olhar atento do Metrópole e da criatividade e prestação de serviços do Divirta-se, marca original do JT, que circula toda sexta-feira no Estadão.
    Com o objetivo de ampliar a estratégia de marcas que compõem o universo doEstadão, junto ao Jornal do Carro somam-se outros importantes títulos que já marcam a cobertura qualificada do jornal, como os cadernos PaladarViagem,Caderno 2CasaEconomia & NegóciosLink, entre outros. "O Estadão é o jornal número um na Grande São Paulo e, com essas mudanças, vai ficar ainda mais forte", reforça Francisco Mesquita Neto.
    Ao longo de seus 46 anos de circulação, o JT foi polo de inovação e criatividade e, com seus premiados jornalismo e design gráfico e sua prestação de serviços, influenciou gerações de leitores e de profissionais da comunicação. "O Grupo Estado agradece aos leitores do Jornal da Tarde por todos os anos de convivência, aos anunciantes, pelo apoio com que sempre nos prestigiaram, e a todos os profissionais que participaram dessa história: jornalistas, colunistas, publicitários, equipe de arte, integrantes das áreas comercial e administrativa, e das áreas de produção e distribuição", finaliza Mesquita Neto.

    Rio dará quase 10 mil vagas para cotistas


    HELOISA ARUTH STURM / RIO - O Estado de S.Paulo
    As universidades públicas no Estado do Rio terão quase 10 mil vagas reservadas para ações afirmativas em 2013. Os editais com as novas regras nos processos seletivos começam a ser publicados. As maiores ofertas estão nos cursos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que destinará 2.770 delas a estudantes egressos de escolas públicas; pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que vai reservar 2.462; e pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com 2.169.
    Todas as federais estarão adequadas à nova Lei de Cotas, mas algumas discutem o porcentual de vagas a ser reservado - o mínimo determinado em lei para 2013 é de 12,5%. É o caso do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), que no ano passado ofereceu cerca de 1,2 mil vagas, sem cotas, em cursos de graduação na área de exatas; e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que aguarda definição do Conselho de Ensino e Pesquisa da universidade quanto ao porcentual a ser aplicado em relação às quase 3,5 mil vagas disponíveis.
    Outras, como a UFF e a UFRJ, destinarão porcentuais superiores ao determinado pela lei. A UFRJ reservará 30%. Na UFF, além dos 12,5% previstos legalmente, outros 10% serão reservados a candidatos que cumprirem certos critérios socioeconômicos, mas sem o critério racial.
    Para Nidia Majerowicz, pró-reitora de graduação da UFRRJ, um dos maiores desafios decorrentes da nova lei será "a criação de mecanismos seguros e eficientes para garantir a verificação da renda para que a reserva de vagas pelo critério socioeconômico seja efetivamente destinada ao público que a ela faz jus".
    Algumas federais, como a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRJ), já reservavam 20% das vagas com habilitação em licenciatura para candidatos que fossem professores em atividade na rede pública. O reitor da UniRio, Luiz Pedro San Gil Jutuca, não só apoia a nova lei como manterá a política afirmativa anterior. "Acho até que essa lei demorou a chegar, porque busca minorar toda uma dívida que a sociedade tem para o contingente menos agraciado ultimamente com uma educação de qualidade", afirmou.
    As universidades estaduais são orientadas por lei estadual de 2008, que reserva 45% das vagas a estudantes carentes, sendo 20% para negros ou indígenas, 20% para oriundos da rede pública de ensino e 5% para pessoas com deficiência ou filhos de agentes de segurança mortos ou incapacitados durante o serviço.
    Além da Uerj, outras três estaduais - Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec, que oferece cursos de graduação), Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo) e Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) - terão reservadas cerca de mil vagas.
    A distância. Os cursos a distância semipresenciais terão vagas preenchidas pelo sistema de cotas. Das 6.305 vagas disponíveis, quase 2 mil serão destinadas a egressos de escolas públicas ou professores da rede pública, observando as leis federal e estadual de cotas, e o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica. Serão oferecidas vagas em 13 cursos, sendo 9 deles de licenciatura, 2 em tecnologia e 2 bacharelados. O processo seletivo é organizado pelo consórcio Cederj, que congrega sete instituições públicas.

    Onda de crimes em São Paulo


    Bruno Paes Manso, Marcelo Godoy e William Cardoso
    SÃO PAULO - Atentados contra policiais militares foram ordenados por traficantes de Paraisópolis, na zona sul. Nesta segunda-feira, 29, pela primeira vez, o governo admitiu que foi de bandidos dessa comunidade que partiu a determinação de executar policiais. "Dali emanaram algumas ordens de atentados contra PMs", afirmou o secretário da Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, minutos antes de chegar à favela, ocupada horas antes por 600 homens da Tropa de Choque da PM.
    Comunidade virou uma espécie de esconderijo de traficantes do PCC e ladrões - Nilton Fukuda/Estadão
    Nilton Fukuda/Estadão
    Comunidade virou uma espécie de esconderijo de traficantes do PCC e ladrões
    O objetivo é asfixiar o tráfico de drogas e causar prejuízos ao Primeiro Comando da Capital (PCC). A ação na segunda maior favela de São Paulo deve durar pelo menos um mês.
    A guerra não declarada entre PCC e PM é apontada por especialistas como a principal causa do aumento de homicídios - no mês de setembro, eles cresceram 96% na capital, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Muitas das execuções de policiais são seguidas por ações de criminosos em motos ou carros, que, mascarados, atiram indiscriminadamente contra suspeitos de usar drogas ou supostos ladrões ou traficantes. Famílias de vítimas denunciam a ação de policiais.
    Oficialmente, o secretaria informa que o objetivo da operação em Paraisópolis é "combater o tráfico de drogas e diminuir roubos na região, além de dar sossego a quem vive na comunidade". Mas dados de criminalidade mostram que a região registrou apenas um assassinato no mês passado e queda de roubos e furtos, em relação à agosto.
    O que torna Paraisópolis importante do ponto de vista criminal é o fato de a comunidade ter virado uma espécie de esconderijo de traficantes do PCC e ladrões que agem no Morumbi. Policiais ocuparam a comunidade após investigação que contou com grampos telefônicos e infiltração de agentes na região. Foram apreendidos 130 kg de maconha, 6 kg de cocaína, 50 frascos de lança-perfume, um fuzil. Também foi preso Edson Santos, de 31 anos, o Nenê. Ele é acusado de ser o "disciplina" do PCC em Paraisópolis, responsável pelo "tribunal do crime" na região. Os "julgamentos" ocorriam no campo do Palmeirinha, tomado nesta segunda pela Tropa de Choque. Nenê era o braço direito do chefão do tráfico na favela: Francisco Antônio Cesário da Silva, o Piauí, preso em 26 de agosto pela Polícia Federal em Itajaí (SC).
    Segundo o deputado Major Olímpio, o traficante disse aos policiais que o prenderam que a ordem da facção é matar um PM a cada integrante do PCC preso e matar dois PMs a cada bandido morto. O vereador eleito Conte Lopes (PTB) disse que ouviu a mesma informação. "Nossa área de inteligência o localizou (Piauí) e entrou em contato com a PF, que fez a prisão", explicou o secretário.
    Ferreira Pinto afirmou ainda que a operação em Paraisópolis é "só a primeira de outras que devem ser feitas pela PM para combater a onda de homicídios". Mas tentou mais uma vez minimizar o poder do PCC, afirmando que o tráfico não é monopólio da facção.
    Críticas. Na favela, a presença de PMs a cavalo e fortemente armados causou estranheza e críticas. Moradores reclamam de não terem sido informados. Apesar do aparato policial, até o início da noite o comércio funcionava normalmente.

    Após 1 ano, alça da Ponte Orestes Quércia não está pronta


    Diego Zanchetta e Rodrigo Burgarelli - O Estado de S. Paulo
    SÃO PAULO - Após quase dez meses de atraso, a Ponte Governador Orestes Quércia, na Marginal do Tietê, foi inaugurada em julho do ano passado. A obra custou R$ 85 milhões e era a última que faltava para a conclusão do chamado Complexo da Nova Marginal. Mais de um ano depois, porém, uma das alças que faltam para completar a ponte não tem nem sequer previsão para ficar pronta. Por isso, o viaduto permanece ocioso e com o tráfego abaixo do previsto.
    Ponte foi inaugurada em julho do ano passado com quase dez meses de atraso - Nilton Fukuda/Estadão
    Nilton Fukuda/Estadão
    Ponte foi inaugurada em julho do ano passado com quase dez meses de atraso
    1. Por que o governo estadual resolveu construir a Ponte Governador Orestes Quércia? A ligação fazia parte do Complexo da Nova Marginal, que englobava também a ampliação do número de pistas que foi inaugurada em março de 2010, durante o mandato do ex-governador José Serra (PSDB). Ela liga a Avenida do Estado à pista central da Marginal do Tietê, no sentido Rodovia Castelo Branco, ao lado do Anhembi, na zona norte. Foi batizada de Orestes Quércia em homenagem ao ex-governador de São Paulo (gestão 1987-1991).
    2.Por que a ponte não foi inaugurada completa?Quando foi aberta ao tráfego, em julho de 2011, faltava ainda uma ligação para o bairro do Bom Retiro, na região central, que estava prevista no projeto executivo. Essa alça não havia ficado pronta porque havia desapropriações de imóveis pendentes, segundo a Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa) - empresa de capital misto ligada ao governo que foi responsável pelo empreendimento.
    3. Um ano depois, a alça ainda não foi feita?Não. E, além disso, nem sequer existe previsão de quando essas obras vão começar. Segundo a Secretaria de Estado de Transportes, ainda falta a desapropriação de imóveis no entorno da ponte, o que deveria ter sido feito pela Prefeitura. Já a administração municipal afirma que está dando continuidade à desapropriação. Enquanto isso, a saída para a alça continua bloqueada e visível para quem passa pelo viaduto.
    4. Quais são as consequências da falta da alça? Além de dificultar a vida de quem trafega pelo Bom Retiro, a falta da alça faz com que o viaduto fique subutilizado durante boa parte do dia. Reportagem do Estado publicada no ano passado mostrou que a ligação recebia apenas 10 mil carros por dia - metade da demanda prevista. Enquanto isso, a Ponte das Bandeiras, logo ao lado, fica travada nos dois sentidos diariamente.
    5. Quais são as outras razões para a baixa utilização da ponte?Segundo especialistas, o alto tempo de espera nos semáforos da Avenida do Estado também atrapalha.
    A QUEM RECLAMAR
    Prefeitura de São Paulo
    http://sac.prefeitura.sp.gov.br
    Ouvidoria Geral do Município
    (11) 0800-175717
    (11) 3334-7132
    Governo de São Paulo
    ouvidoria@casacivil.sp.gov.br
    (11) 3337-5463

    segunda-feira, 29 de outubro de 2012

    A identidade perdida


    MARIO VARGAS LLOSA - O Estado de S.Paulo
    Na versão online da revista New Yorker, de 7 de setembro, há uma "Carta aberta à Wikipédia" do romancista americano Philip Roth que é sumamente instrutiva. Ela conta que Roth, ao descobrir a descrição equivocada feita pela Wikipédia de seu romance The Human Stain ("A Mancha Humana"), enviou uma carta ao administrador da enciclopédia virtual pedindo uma retificação.
    A resposta que ele obteve foi surpreendente, embora a entidade reconhecesse que um autor é "uma indiscutível autoridade sobre sua própria obra", apenas sua palavra não era suficiente para que a Wikipédia admitisse o equívoco cometido. Além disso, ela precisava de "outras fontes secundárias" que avalizassem a correção.
    Na carta aberta, Philip Roth demonstra com precisão e dados fidedignos que seu romance não se inspira, como afirma a Wikipédia, na vida do crítico e ensaísta Anatole Broyard, que conheceu muito rapidamente e cuja vida privada ele ignorava por completo, mas na de seu amigo Melvin Tumin, sociólogo e catedrático da Universidade Princeton, que, por ter usado numa aula uma palavra considerada depreciativa para os negros, se viu envolvido num verdadeiro pesadelo de ataques e sanções que, por pouco, não destruíram sua vida, apesar dos muitos anos por ele dedicados a combater como intelectual e acadêmico a discriminação e o preconceito racial nos Estados Unidos.
    Philip Roth publicou a carta aberta na revista New Yorker para tentar neutralizar de algum modo uma falsidade a respeito de sua obra, que a Wikipédia, dona de um público enorme, espalhara pelo mundo inteiro.
    Não é a primeira vez que o grande romancista americano trava uma batalha quixotesca em defesa da verdade. Há alguns anos, ele descobriu no jornal New York Times que lhe fora atribuída uma afirmação que não lembrava ter feito. Depois de inúmeras diligências e esforços conseguiu chegar à fonte que havia utilizado o jornal para citá-lo: uma entrevista num jornal italiano, assinada por Tommaso Debenedetti, que ele jamais havia concedido.
    Graças a essa investigação, foi possível descobrir as proezas fraudulentas de Debenedetti, que, há vários anos, publicava na imprensa italiana e de outros países reportagens com pessoas de diversas profissões e funções inventadas da cabeça aos pés (eu mesmo mereci a honra de ser uma de suas vítimas, e, outra delas, ninguém menos que Bento XVI). Inútil dizer que as 79 colaborações falsas do personagem não mereceram sanção alguma e a história de sua fraude tornou o simpático Tommaso Debenedetti um verdadeiro herói da civilização do espetáculo.
    Agora, gostaria de me imiscuir neste artigo e contar dois episódios da minha vida recente que mostram uma inquietante proximidade com o que aconteceu com Philip Roth. Estava eu em Buenos Aires quando uma senhora, na rua, me parou para se congratular comigo por meu "Elogio à mulher", que acabava de ler na Internet. Pensei que ela estivesse me confundindo com outra pessoa, mas, poucos dias mais tarde, quando já regressara ao Peru, outras duas pessoas me asseguraram que haviam lido o texto acima mencionado e por mim assinado.
    Finalmente, uma alma caridosa ou perversa o enviou para mim. Era breve, estúpido e de um mau gosto gritante ("A verdadeira beleza está nas rugas da felicidade", "todas as mulheres belas que vi são as que andam na rua com casacos amplos e minissaias, as que cheiram a limpo e sorriem quando são olhadas", e coisas ainda piores).
    Perguntei a amigos fanáticos da rede se havia alguma maneira de identificar o falsário que havia elaborado essa excrecência retórica usando o meu nome e me disseram que, teoricamente, era possível, mas, na prática, não. Porque não há nada mais fácil do que embaralhar as pistas das fraudes retóricas, injetando mentiras e enganos desse tipo. Podia tentar, evidentemente, mas me custaria muito tempo e, sem dúvida, bastante dinheiro. Seria melhor que esquecesse do assunto. É claro que foi o que eu fiz.
    Até que, um ano ou dois mais tarde, recebi um telefonema de um jornalista do La Nación, de Buenos Aires, o jornal que publica meus artigos na Argentina. Ele me perguntou, surpreso, se era eu o autor de um texto, assinado com o meu nome, intitulado "Sim, choro por ti, Argentina", que era uma crítica feroz aos argentinos e estava circulando na internet. Nesse caso, o texto que me atribuíam era infame, mas não estúpido.
    O falsificador havia urdido com uma astúcia cuidadosa, tomando frases que efetivamente eu havia usado alguma vez, por exemplo, para criticar a política da presidente Cristina Fernández de Kirchner ou a do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, e acrescentando-lhes vilezas e vulgaridades horrendas de sua própria lavra ("Tresloucado, pária, besta troglodita da extinta e queridíssima República da Venezuela", "o peronismo é o partido dos ressentidos mais aberrantes, cheios de ódio, de rancores viscerais, fanáticos, fascistas, repletos de uma raiva doentia implacável" e por aí afora).
    Consultei um advogado. Ele me explicou que o tema dos direitos autorais, do copyright, no mundo digital é ainda uma coisa confusa, objeto de múltiplas negociações nas quais ninguém ainda chegou a um acordo. Embora em princípio, mediante uma longa e custosa investigação, eu pudesse chegar à fonte da qual saiu originalmente o texto fraudulento, o esforço seria inútil, pois os falsificadores teriam tomado as precauções necessárias para confundir as pistas, lançando o artigo calunioso não do seu computador, mas usando o de um cibercafé qualquer. Então, não havia nada a fazer? Na realidade, não. Ou melhor: levar a coisa na brincadeira e esquecer.
    E aqui chegamos à parte mais séria e transcendente da questão, mais permanente do que o anedótico. A revolução tecnológica audiovisual, que impulsionou as comunicações como nunca antes na história e dotou a sociedade moderna de instrumentos que lhe permitem burlar todos os sistemas de censura, teve também, como efeito perverso e não premeditado, o de pôr nas mãos da canalha intelectual e política, do ressentido, do invejoso, do complexado, do imbecil ou simplesmente do entediado, uma arma que lhe permite violar e manipular o que até agora parecia o último santuário sacrossanto do indivíduo: sua identidade.
    Tecnicamente, hoje em dia, pode-se falsear a vida real de uma pessoa - o que ela é, o que faz, o que diz, o que pensa, o que escreve - e alterá-la sutilmente até desfigurá-la totalmente, provocando, com isto, às vezes, danos irreparáveis.
    Provavelmente, o pior do caso é que esses atos criminosos sequer são fruto de uma conspiração política, empresarial ou cultural, mas, mais simplesmente, de pobres diabos que, desse modo, procuram combater o tédio ou a pavorosa aridez de sua vida. Eles precisam se divertir de algum modo e, acaso há um esporte mais divertido do que aviltar ou ridicularizar ou colocar em situações escandalosas outras pessoas, uma vez que, além do mais, isto pode ser perpetrado com a impunidade mais absoluta?
    Por isso, os corajosos esforços de Philip Roth em defesa da sua identidade de escritor e de cidadão, para que lhe permitam continuar sendo o que é e não uma caricatura de si mesmo, embora admiráveis, são provavelmente absolutamente inúteis.
    Vitória. Vivemos numa época em que o que julgávamos ser o último reduto da liberdade, a identidade pessoal, ou seja, o que nos tornamos mediante nossas ações, decisões, convicções, aquilo que cristaliza nossa trajetória vital, já não nos pertence senão de maneira muito provisória e precária.
    Assim como a liberdade política e cultural, também nossa identidade agora pode nos ser arrebatada, mas, neste caso, por tiranetes e ditadores invisíveis, que, em vez de chicotes, espadas ou canhões, usam teclas e telas e se servem do éter, de um fluido imaterial, sub-reptício e tão sutil e poderoso que pode invadir nossa intimidade mais secreta e reconstruí-la a seu bel-prazer.
    Ao longo de sua história, o ser humano teve de enfrentar todo tipo de inimigos da liberdade e, com grandes sacrifícios, deixando o campo de batalha coberto de inúmeras vítimas, sempre conseguiu derrotá-los. E acredito que também, no final, derrotaremos este último. Mas temo que essa vitória demorará e nem Philip Roth nem eu chegaremos a comemorá-la./ TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

    Brasil rico, Brasil pobre editorial


    O Estado de S.Paulo
    O aumento da renda nos últimos dez anos proporcionou uma notável melhora no padrão de vida da maioria das famílias brasileiras, aproximando-o de indicadores de países desenvolvidos, se o que se leva em conta é a aquisição de bens de consumo. No entanto, como mostrou o jornal Valor (21/10), se o critério for o fornecimento de serviços públicos básicos, pelos quais o Estado é diretamente responsável, uma boa parte desses mesmos cidadãos ainda convive com situações típicas dos países mais pobres do mundo. Ou seja: quando depende da renda das famílias, o avanço dos brasileiros na direção do mundo do conforto é significativo; no entanto, quando há necessidade de investimentos estatais, as demandas mais óbvias de grande parte da população ainda estão muito longe de serem satisfeitas.
    O Brasil é hoje o oitavo maior mercado consumidor do mundo, segundo o Fórum Econômico Mundial. Desde 2001, saltou de 85,1% para 96,3% o total de domicílios que dispõem de geladeiras. No caso dos televisores, o índice passou de 89% para 97,2%, e no de máquinas de lavar, de 33,6% para 51,6%. Quase 100% das casas agora têm fogão, e o número de residência com computador ligado à internet quadruplicou, chegando a 37,1%. Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), esses dados têm relação direta com a redução da desigualdade de renda verificada no período. Houve expansão de 16% do rendimento médio real do trabalho entre 2001 e 2011, e esse crescimento foi mais acentuado entre os 50% mais pobres da população. Estudo da Fundação Getúlio Vargas indica que o ganho nessa faixa foi de 68% acima da inflação. Além disso, o total de trabalhadores com carteira assinada cresceu 48,1% entre 2003 e 2011.
    Ao mesmo tempo, a oferta de crédito, capitaneada por bancos oficiais, passou de 25% para 51% do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2002 e agosto passado, o que, ao lado do abatimento de impostos para reduzir os preços, também ajuda a explicar o aumento substancial da aquisição de bens duráveis. Com relativa estabilidade de emprego e de ganhos salariais, aliada ao crédito fácil e aos incentivos estatais, os brasileiros foram às compras.
    No entanto, muitos desses consumidores da "nova classe média", que passaram a assistir a seus programas favoritos em modernas TVs de tela plana, são os mesmos que topam com lixo na porta de casa, que enfrentam esgoto a céu aberto e que não têm escola com qualidade ao menos razoável para seus filhos.
    O IBGE mostra que cerca de 40% das residências brasileiras não dispõem de abastecimento de água e coleta de esgoto. A comparação com os países ricos é dramática: nos Estados Unidos, segundo o Valor, apenas 0,6% das casas não tinham água encanada e vaso sanitário com descarga em 2011. Ainda segundo o IBGE, 11% das casas brasileiras não têm nenhum tipo de saneamento básico e 5% convivem com lixo acumulado. E 40% dos logradouros não têm nenhuma identificação, de modo que seus habitantes não sabem dizer exatamente onde moram. O quadro é igualmente sombrio na educação. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de 2011 mostra que, no ensino médio, a maioria dos alunos não sabe ir além das quatro operações aritméticas nem consegue ler e escrever de modo satisfatório.
    Tudo isso se reflete na capacidade do Brasil de competir por mercados. O último ranking do Fórum Econômico Mundial sobre o tema indica que o País, embora tenha subido cinco posições, para o 48.º lugar, ainda marca passo em indicadores-chave. No item "saúde e educação básica", por exemplo, o Brasil figura em 88.º lugar entre 144 países, perdendo 9 posições desde 2009.
    Como se observa, lentamente estamos deixando de ser a "Belíndia", à qual se referiu o economista Edmar Bacha, em 1974, para designar a concentração de renda que gerou o abismo entre o minúsculo Brasil rico, isto é, a "Bélgica", e o enorme Brasil pobre, a "Índia". Agora, o País está mais para um "Engana", apelido dado recentemente pelo ex-ministro Delfim Netto para designar esse festejado Brasil que tem renda da Inglaterra (England), mas que ainda dispõe de serviços públicos de Gana.

    O ar profundamente humano do STF




    Coluna Econômica - 29/10/2012 Luis Nassif


    Períodos eleitorais deixam nervos à flor da pele e o comportamento do STF (Supremo Tribunal Federal) não tem ajudado a trazer bom senso para o debate político.
    O que se passa é apenas mais um capítulo de um penoso processo de aprendizado democrático. Especialmente em um momento em que as urnas tornam mais distantes os sonhos de uma rotatividade no poder.
    Do lado de parte da mídia, há uma tentativa insistente de envolver Lula no julgamento e, se possível, de processá-lo e fazê-lo perder seus direitos civis. Do lado de parte do PT, um chamado à resistência capaz de elevar ainda mais a temperatura política.
    No meio, botando lenha na fogueira, os doutos Ministros.
    ***
    Mentes mais conspiratórias à esquerda podem suspeitar da preparação de um novo golpe. Mentes conspiradoras à direita podem mesmo acreditar que poderão fomentar o golpe.
    No fundo, o que ocorre com o Supremo é apenas uma manifestação eloquente de humanidade. Não da grande humanidade, dos princípios que consagram homens e civilizações. Mas das fraquezas e vaidades que tornam - do mais solene magistrado ao mais simples cidadão - os homens iguais entre si.
    ***
    O capítulo atual do aprendizado é o da exposição do STF à luz dos holofotes, com transmissão ao vivo e, pela primeira vez, analisando um processo penal. Vaidosos por natureza, como o são todos os intelectuais dotados de conhecimento especializado – e, no caso do STF, com esse conhecimento sendo manifestação de poder – os Ministros foram expostos ao desafio de se tornarem celebridades e não perderem a linha.
    Alguns não conseguiram.
    ***
    Foi o que levou um Celso de Mello a colocar gasolina na fogueira, e esforçar-se tanto pelo grande momento de oratória, insistir tanto na ênfase definitiva, a ponto de comparar partidos políticos ao PCC.
    O mesmo fez Marco Aurélio de Mello, com sua defesa do golpe de 64. O Ministro que sempre se jactou de chocar os pares – inclusive com alguns posicionamentos históricos – com a concorrência inédita dos demais ministros precisou avançar alguns tons na competição. E pode haver prato melhor do que um Ministro da mais alta corte defendendo uma transgressão à Constituição?
    ***
    Essa mesma sensação de poder acometeu Joaquim Barbosa, a ponto de avançar sobre colegas que ousassem discordar da voz de Deus. Contra os advogados dos réus, não a explosão de trovões – que só são utilizados contra iguais – mas o riso irônico de quem trata com personagens insignificantes, perto da grandeza do Olimpo.
    Todos trovejam e Ayres Britto passarinha, com sua voz de pastor das almas, tentando alcançar o tom grave dos colegas mais eloquentes.
    ***
    No plano real, fechadas as cortinas do espetáculo, não há possibilidade de se alcançar Lula. A teoria do “domínio do fato”, encampada pelo Procurador Geral da República, subiu na escala hierárquica e pegou José Dirceu e José Genoíno. Mas mesmo o PGR considerou exagero alçar voo para mais um degrau e alcançar Lula. Definitivamente, Lula está fora do processo.
    ***
    Assim, as investidas dos Ministros do STF explicam-se muito mais pelas fraquezas humanas, pelo estrelismo que acomete espíritos menos sábios, do que pelo maquiavelismo político. Eles são humanos. Apenas não foram informados disso.

    Edifício do poder, sem nº


    José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
    Mudam divisórias, PT e PSB ganham mais espaço, PMDB e PSDB perdem salas, mas as estruturas do edifício do poder continuam inalteradas no Brasil. Os petistas ocupam a cobertura há 10 anos, mas o restante do prédio é dividido entre 30 condôminos. O PT elege o síndico, mas não administra o condomínio sem ceder poder a outros. Ninguém tem hegemonia. E é bom que seja assim.
    O PT sai maior das urnas, mas com direito a ocupar apenas 11% das prefeituras e a governar 20% do eleitorado local. Tudo bem que isso inclui o canto mais populoso do edifício, a sala São Paulo, mas está longe de configurar um domínio da política brasileira. O partido de Lula cresce, mas não é o único. O PSB vem na cola e tem seus próprios planos.
    O partido do governador Eduardo Campos, de Pernambuco, elegeu 131 prefeitos a mais do que em 2008 e entrou para o seleto clube dos 10%: os prefeitos do PSB passarão a governar uma fatia que corresponde a 11% do eleitorado local a partir de janeiro. A sigla dobrou o que conseguira quatro anos atrás: governará 15 milhões de eleitores. Só outros três partidos estão nesse clube.
    A base municipal obtida pelo PSB é necessária para o partido barganhar melhores condições numa coligação presidencial, mas, sem articulações com outras siglas, é insuficiente para lançar o governador pernambucano à sucessão de Dilma Rousseff (PT) na disputa de 2014. Por isso, devem crescer as conversas de Campos com os tucanos, por exemplo.
    O PSDB viu sua participação no bolo do eleitorado municipal cair de 14% para 13% nesses quatro anos. A maior queda foi a do PMDB: de 22% para 17% do eleitorado municipal. A fatia do PT cresceu de 16% para 20%.
    Todas essas participações são maiores do que o pedaço do bolo que está no prato de Eduardo Campos, por enquanto. Mas o tamanho e a distribuição das fatias devem continuar mudando mesmo depois de terminada a apuração.
    Há, por exemplo, as conversas de fusão entre o PP de Paulo Maluf com o PSD de Gilberto Kassab. O primeiro encolheu, e o segundo roubou prefeitos e prefeituras de todos os partidos médios e virou uma sigla com boa penetração nos rincões do Brasil profundo. O PSD é uma contradição em termos: cresceu, mas encolheu. Os seus 497 novos prefeitos governarão, juntos, um eleitorado equivalente ao que Kassab deixará de governar.
    Mesmo assim, se PSD e PP virarem PSDP ou PPSD comandarão 966 prefeituras e governarão 16 milhões de eleitores. Ficariam em segundo lugar no ranking de prefeitos e em quarto no de eleitorado a governar. Como serão, na imensa maioria, cidades pequenas, não devem movimentar muito dinheiro, mas, a depender a distribuição geográfica, têm potencial para eleger a terceira ou quarta maior bancada de deputados federais em 2014.
    Falsa hegemonia. Colocados em perspectiva, os avanços do PT mostram que o partido de Dilma e Lula está longe de ter se tornado hegemônico: 89% das prefeituras e 80% do eleitorado municipal estarão nas mãos de outras legendas partidárias. Não dá para fazer o que bem entender na assembleia do condomínio sem colher uma reação negativa dos outros condôminos. O poder petista é consorciado. Para ser exercido continuará dependente de alianças.
    O resultado do 2.º turno em si mostra que quando o PT enfrenta um duelo dois a dois e seu desempenho piora bastante. Dos 22 segundos turnos que disputaram, os petistas ganharam só em oito municípios. A taxa de sucesso foi de apenas 36%, praticamente duas derrotas para cada vitória.
    Essa é uma característica do PT. Para continuar crescendo, o partido de Lula precisará fazer um esforço cada vez maior. Como elege proporcionalmente menos candidatos do que o PMDB e o PSDB, por exemplo, precisará lançar um número ainda maior de postulantes a prefeito em 2016 para aumentar sua fatia de poder municipal. Até agora tem conseguido, mas a um custo relativamente mais alto do que o de seus aliados e rivais.
    O PT chegou ao posto de maior partido brasileiro graças a uma organização nacional, a um projeto de poder e a lideranças carismáticas. Seu principal concorrente, o PSDB, tem uma lição de casa mais trabalhosa. Precisa renovar suas lideranças, ajustar seu discurso eleitoral e corrigir deficiências regionais.
    Das sete centenas de prefeitos tucanos, 45% estão concentrados em São Paulo (176) e em Minas Gerais (142). Isso pode ser um problema para o PSDB eleger deputados federais em 2014, principalmente no Ceará, na Bahia e no Rio Grande do Norte.

    sexta-feira, 26 de outubro de 2012

    Recuperar o etanol, por Arnaldo Jardim


    Sem contar com políticas públicas estáveis para incentivar e assegurar a produção, o etanol perde espaço na matriz energética brasileira. A competitividade desse estratégico combustível renovável sucumbe ao artificialismo do preço da gasolina que, importada em volume cada vez maior, aumenta a emissão de gases de efeito estufa e pressiona o déficit da conta de combustíveis.
    A participação relativa do etanol caiu 34% nos últimos anos, enquanto a da gasolina e diesel, muito mais poluentes, dispararam no mesmo período.
    A possibilidade do etanol da cana de açúcar conquistar outros mercados por sua vantagem competitiva e pelo seu diferencial de sustentabilidade ambiental vai ficando mais distante.  Em 37 anos de existência do Proálcool, o etanol combustível substituiu até o último mês de junho mais de 2,2 bilhões de barris de gasolina, o que contribuiu para a geração de emprego e renda e na redução do aquecimento do planeta. Imagine-se a atmosfera da cidade de São Paulo sem o nosso etanol. 
    O etanol da cana é um patrimônio nacional. Com a importação em 2011 de 1,15 bilhões de litros de etanol anidro produzido nos EUA a partir do milho, criamos empregos lá e deixamos de movimentar o setor sucroalcooleiro aqui. O volume importando foi 15% além do necessário porque a mistura à gasolina foi reduzida para 20%, e mais de 500 milhões de litro “se transformaram” em etanol hidratado, numa virada brusca que evidenciou a falta de planejamento do governo.
    O aumento da importação de etanol, gasolina e diesel está na contramão do discurso oficial de que o Brasil não pode e não deve abrir mão do uso de energias renováveis e limpas. Some-se a isso o fato de que a anunciada independência energética não se concretizou. Não conseguimos aumentar a oferta de combustíveis renováveis e fósseis de forma condizente com o aumento da demanda.
    Para o setor sucroenergético recuperar fôlego e colocar o Brasil na vanguarda mundial dos biocombustíveis, depende-se muito mais da ação do governo do que propriamente do mercado. Os investimentos em inovação tecnológica aplicada à cultura da cana de açúcar, que em grande parte é responsável pelo boom que a agricultura brasileira vive nos últimos anos, são fundamentais para continuarmos avançando na produtividade e na qualidade do etanol. A pesquisa e a inovação podem avançar na consolidação do etanol de segunda geração.
    A recuperação do preço do etanol hidratado, via desoneração de impostos cobrados pela União e estados, é a questão central, como a definição de seu padrão e fixação do percentual de mistura à gasolina, ou seja, sua participação na matriz de combustíveis.
    A ANP (Agência Nacional de Petróleo) anuncia que o aumento do percentual de etanol anidro na gasolina voltará em maio ou junho de 2013. A redução foi a toque de caixa, o aumento é projetado a médio prazo e assim a referencia capaz de determinar a previsibilidade e cenários firmes fica indefinida.
    Outra solução para retomar a competitividade desse combustível é a utilização da CIDE em seu aspecto regulatório, inclusive incorporando a sua dimensão ambiental. Sem contar que o regime de redução do IPI para indústria automobilística precisa ser estendido para os carros flex. Quem tem carro com esse tipo de motor precisa ser incentivado. As montadoras que conseguissem reduzir o consumo de etanol, com maior eficiência em seus motores, por exemplo, teriam uma redução mais substancial de IPI.
    São necessárias também regras duradouras e a criação de linhas de crédito para estimular o setor ainda abalado pela crise de 2008 e por fatores climáticos que reduziram a produtividade dos canaviais. Na safra 2011/2012, a produção do biocombustível recuou 17%, o que representa algo em torno de 5 bilhões de litros a menos de etanol no mercado que tem de ser compensado por importações.
    A recuperação do setor tem que levar em conta a ampliação do parque de moagem e a renovação de canaviais. Neste sentido, o aperfeiçoamento do Prorenova  (Plano de Recuperação dos Canaviais),  bem como a sua flexibilização, é essencial para aumentar o nível de financiamento e reduzir a burocracia excessiva na contração de recursos.
    O setor sucroenergético precisa de um conjunto de medidas de curto, médio e longo prazo para ampliarmos e renovarmos os canaviais, aumentarmos a eficiência das unidades produtoras existentes e estimularmos a construção de novas plantas.
    O setor passou por grande transformação nos últimos anos, tornou-se heterogêneo. Novos players se integraram e com isso criou-se visões diferentes. Por isso precisamos buscar o consenso em torno de um conjunto de medidas, pois temos acumulo para tanto. É preciso defendê-las com a consciência de que somos um setor essencial e estratégico ao país. O governo ajuda no que for seu papel e o setor com sua capacidade empreendedora. O que se busca é uma política de Estado para o etanol e não benesses.
    O governo tem que assumir se o etanol é ou não prioridade e adotar medidas coerentes e urgentes a respeito. Não podemos perder mais tempo e abdicar da enorme vantagem apresentada pelo biocombustível em relação aos fósseis. O País pagará um preço se a indefinição e omissão persistirem.

    Arnaldo Jardim  é deputado federal (PPS-SP) – membro da Comissão de Minas e Energia e presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Infraestrutura Nacional.

    quarta-feira, 24 de outubro de 2012

    O desafio do medicamento no Brasil



    Coluna Econômica - 24/10/2012  Luis Nassif

    Quais os limites para a fabricação de medicamentos por laboratórios oficiais? Este foi um dos pontos relevantes do Seminário Brasilianas Sobre Economia da Saúde.
    Para Gonzalo Veccina, ex-superintendente da Anvisa (Agência Nacional de VIgilância Sanitária), falta foco nesse investimento em laboratórios oficiais.
    Reconhece a excelência da Fiocruz (que administra alguns laboratórios) e do Instituto Butantã, entre poucos outros. Mas quando o Ministério da Saúde insiste em ampliar para outros laboratórios, menos capacitados, faltaria definir o principal: o que se pretende com isso, substituir a produção privada? É impossível, diz Veccina. O papel deveria ser o de coordenar.
    Ele compara com as Farmácias Populares, operadas pela Fiocruz. Qual programa atinge mais brasileiros as Farmácias Populares ou o programa de distribuição de remédios para diabete e hipertensão através das 60 mil farmácias existentes no país? O segundo, é claro, conclui ele.
    ***
    Não há dúvida de que os laboratórios oficiais, especialmente em remédios mais críticos, têm exercido um insubstituível papel regulador de preços, impedindo abusos.
    Mas Veccina propõe que se vá além, que se pense o novo. O desafio em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação é deixar de fazer mais do mesmo, insiste ele. É discutir o do Estado, Universidade e indústria para que o país ocupe espaço no mundo, na produção mundial de medicamentos.
    ***
    Veccina considera "desastroso" a quantidade de recursos que o Ministério pretende colocar em laboratórios oficiais, porque não serão capazes de dar respostas eficientes.
    Os laboratórios públicos nasceram nos tempos do conhecimento físico-químico, diz ele, e em que os diagnósticos eram tão precários que a eficácia dos medicamentos não era adequadamente avaliada. Por isso mesmo, havia espaços maiores para entrar no mercado global.
    Hoje, com o conhecimento de farmacinético (o estudo de todas as etapas da droga no organismo humano), com equipamentos como espectrômetro de absorção atômica e outros, com a possibilidade de se identificar moléculas, é impossível que o conjunto de laboratórios públicos dê conta do recado.
    ***
    Veccina defende que se continue fazendo a farmaco química, o processo tradicional de produção de medicamentos, mas trabalhando em produtos essenciais, relevantes. Hoje em dia a linha de produção dos laboratórios oficiais é de baixo valor agregado. São praticamente laboratórios de manipulação que sequer conseguiram entrar no mercado de genéricos, diz ele.
    ***
    Em 2014, todos os medicamentos produzidos no Brasil terão que passar por provas de farmacocinética, diz ele. Com exceção da Farmanguinhos e da FURP, nenhum dos demais terá condições de atender às exigências, diz ele, que afirma não entender a razão da Marinha e do Exército ter sua própria fábrica de medicamentos.
    Na área de biológicos e imunobiológicos, Veccina propõe repensar nossa indústria estatal. Hoje em dia existe uma competição entre a Biomanguinhos e o Instituto Butantã.
    Não há razão para essa competição entre dois laboratórios estatais, diz ele. E pode-se destruir todo esse trabalho se se insistir em estender essa produção para outros laboratórios, menos capacitados.

    O que e o como se quer
    Veccina defende a política atual, de convivência e relacionamento com grandes multinacionais que participam do mercado de medicamentos imunobiológicos. Mas considera errático o caminho percorrido. Consegue avançar quem tem mais acesso aos favores das fontes de financiamento. Por isso insiste na importância de se definir o que se quer, antes de colocar o movimento o como fazer.

    Pegando o bonde atrasado
    Considera ter havido avanços, como por exemplo na CNTBio (que analisa e libera pesquisas de transgênico). Se mantivesse o desenho do final do governo FHC, o Brasil teria perdido o bonde das biotecnologia agrícola. Mas tem que definir a posição brasileiro para outras áreas. Tem que avançar nessa área, além dos produtos naturais. Mas a área de farmoquimica foi destruída no início dos anos 90 e dificilmente terá condições de competir com mercados como os da China e Índia.

    O papel da Anvisa
    O desenho de uma política industrial teria que ser montado em cima das seguintes estratégias: A primeira é o Marco regulatório: Veccina defende repensar o papel da Anvisa. Ela deveria atuar quase como uma consultoria, acompanhando a produção da indústria e orientando-a para não fazer investimentos desnecessários. Considera que tem faltado ao Estado brasileiro e à Anvisa essa visão de política industrial.

    A importância da metrologia
    A metrologia (ou certificação) é fundamental para a colocação de produtos brasileiros no exterior. Há uma enorme rede de laboratórios operada pelo Inmetro. No entanto não existe uma rede de laboratórios de saúde pública no país. Como fiscalizar sem dispor desses laboratórios? A Anvisa fiscaliza sem ter competência legal. Há um enorme trabalaho de formação de especialistas na área para dar conta do recado.

    As boas práticas
    Os laboratórios públicos e muitos privados não trabalham seguindo as chamadas boas práticas de pesquisas clínicas. Sem boas práticas de pesquisa, não se faz desenvolvimento. Há a necessidade de um esforço importante na formação  de profissionais que dominem as boas práticas clínicas. É um movimento que Europa está fazendo, de formar milhares de novos pesquisadores.

    A assistência farmacêutica
    Tem que se pensar a assistência farmacêutica conjuntamente a indústria, para ter política de saúde mais inclusiva. Sem resolver a questão da hipertensão e da diabetes não se vai resolver a questão da saúde. E tem que se mapear os centros de excelência para incentivá-los. É o caso da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), que pesquisa produtos naturais e a Universidade Federal da Paraiba, com fitoterápicos.

    domingo, 21 de outubro de 2012

    Um sucesso para ninguém botar defeito - ELIO GASPARI

    A notícia pareceu uma simples estatística: entre 1997 e 2011, quintuplicou a percentagem de negros e pardos que cursam ou concluíram o curso superior, indo de 4% para 19,8%. Em números brutos, foram 12,8 milhões de jovens de 18 a 24 anos.
    Isso aconteceu pela conjunção de duas iniciativas: restabelecimento do valor da moeda, ocorrido durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, e as políticas de ação afirmativa desencadeadas por Lula.
    Poucos países do mundo conseguiram resultado semelhante em tão pouco tempo. Para ter uma ideia do tamanho dessa conquista, em 2011 a percentagem de afrodescendentes matriculados em universidades americanas chegou a 13,8%, 3 milhões em números brutos. Isso depois de meio século de lutas e leis.
    Em 1957, estudantes negros entraram na escola de Little Rock escoltados pela 101ª Divisão de Paraquedistas.
    Pindorama ainda tem muito chão pela frente, pois seus negros e pardos formam 50,6% da sua população e nos Estados Unidos são 13%.
    O percentual de 1997 retratava um Brasil que precisava mudar. O de 2011, uma sociedade que está mudando, para melhor. Por trás desse êxito estão políticas de cotas ou estímulos nas universidades públicas e no ProUni.
    Em seis anos, o ProUni matriculou mais de 1 milhão jovens do andar de baixo, brancos, pardos, negros ou índios. Deles, 265 mil já se formaram. Novamente, convém ver o que esse número significa: em 1944, quando a sociedade americana não sabia o que fazer com milhões de soldados que combatiam na Europa e no Pacífico, o presidente Franklin Roosevelt criou a GI-Bill.
    Ela dava a todos os soldados uma bolsa integral nas universidades que viessem a aceitá-los. Em cinco anos, a GI-Bill matriculou 2 milhões de jovens. Hoje entende-se que a iniciativa foi a base da nova classe média americana e há estudiosos que veem nela o programa de maior alcance social das reformas de Roosevelt.

    MANGUINHOS, JOIA DA COROA OU GUARDANAPO
    A desapropriação dos 500 mil metros quadrados da refinaria de Manguinhos pode se tornar uma das joias da coroa da administração do governador Sérgio Cabral. Tudo bem se a indenização tiver que cobrir os impostos que a empresa deve (só de ICMS são R$ 675 milhões, bem como seu passivo trabalhista).
    Se os donos de uma refinaria obsoleta que contamina o ambiente e envenena o solo embolsarem algo como R$ 200 milhões, será um caso de guardanapo na cabeça. Essa decisão, contudo, caberá ao Poder Judiciário.
    Manguinhos fica dentro da cidade e degradou a região de tal forma que está cercada por comunidades miseráveis.
    A ideia de usar seu terreno para recuperar a região poderá resultar na pacificação urbanística do que hoje é a favela de Ramos. Seria uma intervenção do tamanho da revitalização da zona portuária, mesmo sem o seu charme.
    Não se deve subestimar os poderes da turma de Manguinhos, estabelecida quando o presidente Getúlio Vargas alavancou seu primeiro dono, o empresário Peixoto de Castro. Recentemente, os novos controladores tiveram novos anjos da guarda, os comissários Marcelo Sereno e José Dirceu, mais a bancada dos precatórios do PMDB.
    Nos anos 50, a turma do refino privado foi incomodada no Conselho Nacional do Petróleo por um economista e um coronel. Deram um trato ao economista (Jesus Soares Pereira) cassando-o em 1964. Ao coronel, ofereceram a presidência da Petrobras no governo JK, desde que ficasse quieto. Como ele não ficou, derrubaram-no.
    Faltou-lhes a sorte. O coronel Ernesto Geisel tornou-se presidente da Petrobras e da República. Ele gostava de contar como foi atrás deles.

    ARQUIVO
    José Roberto Arruda, ex-governador de Brasília e ícone do mensalão do DEM, voltou a falar:
    "Só digo uma coisa: não apareceu nem metade da missa".
    Como diria Camila Pitanga: "Fala, Arruda".

    O CONTRADITÓRIO
    A revista "Retrato", dirigida pelo repórter Raimundo Rodrigues Pereira, chegará às bancas nesta semana com uma capa intitulada "A vertigem do Supremo". Ela afirma que os ministros do STF deliraram ao aceitar a tese segundo a qual houve um desvio de R$ 76,8 milhões do Banco do Brasil para a turma do mensalão. A reportagem sustenta que não há trabalho contábil de fé que ampare essa acusação e coloca no site da revista 108 documentos (cada um com cerca de 200 páginas) da auditoria feita pelo banco.
    Com mais de 40 anos de carreira e obsessões investigativas, Raimundo já contrariou a sabedoria convencional em duas ocasiões. Há dois anos, provou que o banqueiro Daniel Dantas foi satanizado pelo delegado Protógenes Queiroz na Operação Satiagraha. Nenhum dos fatos que mencionou foi desmentido.
    Em 1996, ele investigou as denúncias de má conduta profissional feitas contra a cientista brasileira Teresa Imanishi. Tinha do outro lado um Prêmio Nobel e o governo americano. Prevaleceu e depois de dez anos a cientista foi inocentada, com pedidos de desculpas do "New York Times" e do "Washington Post".

    AVISO AMIGO
    Quando o ministro Joaquim Barbosa assumir a presidência do Supremo deverá ter uma preocupação. Ele sabe que não é estimado pelos colegas. O que talvez não saiba é que muitos deles não pretendem levar desaforo para casa.

    PESADELO AMERICANO
    Sempre que a eleição americana marcha para um final apertado ressurge o fantasma do empate no colégio eleitoral.
    Desta vez existe a remota possibilidade de Barack Obama e Mitt Romney empatarem, cada um com 269 votos, no colégio eleitoral.
    Nesse caso, a escolha irá para uma assembleia de 50 eleitores (um para cada Estado) e tudo indica que Romney saia vitorioso, pois os republicanos tendem a manter a maioria na Câmara dos Representantes.
    Se esse cenário improvável ocorrer, a crise de 2000, quando George Bush 2º prevaleceu sobre Al Gore, será vista como uma mixaria, sobretudo se o companheiro Obama conseguir mais votos populares.
    A democracia americana sairá mal da foto. Olhando-se para seus últimos oito presidentes, três passaram por processos anômalos. Bush 2º ganhou a Casa Branca na Corte Suprema, Richard Nixon foi obrigado a renunciar, e John Kennedy foi assassinado.
    (A possibilidade do empate e a discussão do processo eleitoral estão descritos no site "Sabato's Crystal Ball". Apesar de ter escolhido nome bobo, o professor Larry Sabato, da Universidade da Virgínia, é um respeitado estudioso das eleições americanas.)

    EREMILDO, O IDIOTA
    Eremildo é um idiota e muda de opinião a cada dia.
    Às segundas, quartas e sextas é favorável ao "kit anti-homofobia". Às terças, quintas e sábados é contra.
    Em todos os casos, por idiota, acredita que essa discussão criará mais escolas, creches e hospitais na cidade de São Paulo . Por quê? Eremildo não sabe, mas está procurando quem saiba.