terça-feira, 31 de julho de 2012

A mãe de toda corrupção


Por Luis Nassif
Coluna Econômica - 31/07/2012
Deixo de lado, por um dia, a série sobre modelos de desenvolvimento, para falar de tema central, no combate à corrupção no país: o financiamento privado de campanha.
Nos próximos dias começará o julgamento do “mensalão” – o sistema de financiamento de campanha do PT e partidos aliados, denunciado por Roberto Jefferson. Não há provas de que tenha sido um pagamento mensal por compra de apoio. É mais o apoio financeiro às campanhas políticas de aliados.
Mesmo assim, não deve ser minimizado, desde que se entenda que é algo que ocorre com todos os partidos e todas instâncias de poder.
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O país avançou enormemente na luta contra a corrupção. Dispõe de um conjunto de organismos funcionando, como o TCU(Tribunal de Contas da União), a AGU (Advocacia Geral da União), o Ministério Público, a Polícia Federal. E, agora, a Lei de Transparência, obrigando todos os entes públicos a disponibilizarem suas informações na Internet.
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Mas o ponto central de corrupção – o financiamento privado de campanha – continua intocado.
Por que ele tem essa importância?
O primeiro círculo de controle da corrupção é do próprio partido. São políticos vigiando correligionários.
Com o financiamento público de campanha e o Caixa 2, a contabilidade vai para o vinagre. É impossível controlar o que vai para o partido ou para o bolso dos que controlam as finanças partidárias.
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O mesmo ocorre na administração pública. A sucessão de convênios firmados por Ministérios com ONGs aliadas é efeito direto desse modelo.
Mas não apenas isso. Tome-se o responsável pela aprovação de plantas na Prefeitura de São Paulo. Durante anos e anos prevaricou. Para tanto, desobedecia as posturas municipais. Por que não foi denunciado por subordinados? Justamente por não saber se era iniciativa pessoal sua ou a mando do seu chefe, ou do chefe do chefe. Tudo isso devido ao financiamento privado de campanha.
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Essa prática nefasta acabou legitimando (embora não legalizando) vários tipos de golpe em todas as instâncias administrativas, em todos os quadros partidários.
Liquidou não apenas com a ética partidária mas com a própria democracia interna dos partidos. Na composição dos candidatos ao legislativo, tem preferência quem tem acesso a financiadores de campanha. E a conta será cobrada depois.
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Os desdobramentos se dão não apenas no âmbito da política, mas do próprio crime organizado.
A falta de regras faz com que pululem irregularidades em todos os cantos – desde meros problemas administrativos até escândalos graúdos.
Em parceria com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, por exemplo, a revista Veja montou uma verdadeira máquina de arapongagem em Brasilia, que servia não apenas para vender mais revista, criar mais intimidação, como para outros objetivos ainda não completamente esclarecidos.
Em muitos casos, levantavam-se escândalos com o único propósito de afastar quadrilhas adversárias de Cachoeira.
As revelações de ontem – do portal G1, da Globo – de que a namorada de Cachoeira chantageou um juiz (dizendo que tinha encomendado um dossiê para Veja) é demonstração cabal de como a corrupção entrou em todos os poros da vida nacional.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Da cama ao octógono


José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
O PMDB é o maior aliado do PT. O PMDB é o maior adversário do PT. Se conseguir explicar a um marciano como as duas frases estão corretas ao mesmo tempo, você terá entendido como funciona a política no Brasil. Talvez consiga entender até o mensalão. Quanto ao marciano, há o risco de ele sair voando para outro planeta, onde a teoria quântica se limite à física.
PMDB e PT se apoiam mutuamente em 1.225 eleições de prefeito este ano. Os petistas dão apoio a 811 peemedebistas, e recebem de volta as juras de amor do PMDB em 414 cidades. É, de longe, a maior aliança entre dois partidos. A segunda ligação mais popular, do PSDB com o PP e vice-versa, é 27% menos frequente do que a ligação petista-peemedebista. Mas a coroa dessa moeda é proporcional à cara onde se assenta.
PMDB e PT se batem diretamente por 579 prefeituras. É o confronto mais comum nestas eleições, à frente até da disputa entre os arquirrivais petistas e tucanos. Se fosse luta de MMA seria tão repetida quanto Anderson Silva versus Chael Sonnen.
Como explicar essa contradição? Que os maiores aliados sejam, ao mesmo tempo, os maiores rivais? Que possam ir da cama ao octógono com tanta naturalidade? A teoria das probabilidades explica o que a ciência política tem dificuldade de justificar.
O PMDB é, dentre todos, o partido com mais candidatos a prefeito. É uma necessidade que a sigla alimenta desde que ganhou o "P". O PMDB alicerça sua catedral federal na base municipalista. Sem milhares de prefeitos, não elegeria quase uma centena de deputados federais, e seus cardeais não teriam o que barganhar com o presidente de plantão. O PMDB depende de prefeitos como a Igreja depende de padres. Sua força é proporcional à quantidade de paróquias.
Quem tem mais candidatos tem também maior probabilidade de ter mais adversários. E o segundo partido que mais lançou candidatos a prefeito em 2012 foi o PT. Logo, o intenso confronto PMDB X PT é uma consequência aritmética. Parece cru, mas é como as coisas funcionam nas eleições municipais brasileiras.
O PSDB é o terceiro partido em candidatos a prefeito. Seus confrontos diretos com PT (em 535 cidades) e com PMDB (522) estão, como manda a probabilística, entre os três mais frequentes. A regra se repete com impressionante proporcionalidade à medida que descemos a escada partidária: quanto menos candidatos a prefeito, menor o número de confrontos entre duas siglas. Há raras exceções em que a ideologia ou as conveniências superaram as leis da probabilidade.
A mais surpreendente é a união de PSDB e PP. Os tucanos fizeram 899 coligações com o partido de Paulo Maluf, mas só têm confrontos diretos com o PP em 165 cidades, o que demonstra uma aliança premeditada. A ironia é que, para garantir tempo de TV a Fernando Haddad em São Paulo, Lula posou para foto com Maluf, mas foram os candidatos a prefeito do PSDB que mais apoios receberam do PP malufista: 548, contra 342 candidatos petistas. O PP serviu ao PT no varejo e ao PSDB no atacado.
Quando subtraímos os confrontos das alianças, o mapa político brasileiro fica ainda mais claro. O único saldo negativo é o da relação PT X PSDB. São apenas 343 apoios recíprocos, contra 535 confrontos diretos na eleição de prefeitos. Nem sempre foi assim, mas o acirramento da disputa entre os dois partidos nas últimas cinco eleições presidenciais acabou se refletindo em conflitos crescentes e alianças cadentes na política local.
O saldo de apoios também prova que a mais forte relação eleitoral, entre todos os partidos, é a do DEM com o PSDB: têm proporcionalmente menos confrontos (157) e mais coligações (911) nas disputas por prefeituras. É uma relação quase subalterna, na qual o DEM dá mais do que o dobro de apoios do que recebe dos tucanos. Sinal de que uma eventual fusão das duas siglas teria poucos empecilhos na base partidária.
Outra regra emerge dos números de embates e coligações: quanto mais candidatos a prefeito têm um partido, menos apoios ele dá e mais ele recebe das demais legendas. O PMDB supera todos os demais em apoios, o PT supera todos menos o PMDB, o PSDB supera todos menos PT e PMDB, e assim vai. É a prova de que quem tem mais pode mais - e de que os partidos políticos brasileiros fazem de tudo entre si, só não dão beijo na boca.

O novo desenvolvimento e o papel do Estado - 2


Coluna Econômica - 30/07/2012
A análise dos modelos de desenvolvimento nacionais, ao longo dos últimos séculos, permite idntificar pontos centrais que deflagram processos.
Há que se preparar as bases, educação, inovação, ambiente favorável ao empreendedorismo etc. Mas o gatilho que muda o patamar da economia é a abertura de mercados.
É o que permite ampliar a escala da produção, abrir espaço para novos investimentos, para a empresas mudar rapidamente de patamar tecnológico e de produção.
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Foi assim com a Inglaterra (conquistando o mercado externo), os Estados Unidos (conquistado o interior), a Argentina no final do século 19 (conquistando os pampas e os mercado norte-americano e europeu) e a China no final do século 20.
É esse impulso inicial que muda a dinâmica do desenvolvimento, cria uma mística interna que facilita reformas, mudanças de paradigma, abre espaço fiscal para políticas proativas,
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São vários os caminhos para tal:
Conquista do mercado interno
Os grandes saltos de desenvolvimento brasileiro – político e econômico – foram precedidos de inclusão de novos atores nos mercados de consumo e político. Foi assim com a migração no final do século 19, com a urbanização de São Paulo nos anos 20, com a criação das indústrias do ABC nos anos 50 e, nos últimos anos, com a massificação de políticas sociais.
Outro ponto relevante é o da interiorização do desenvolvimento. A conquista do Paraná, nos anos 50, e do centro-oeste nos anos 70 foram passos fundamentais para a construção da nova economia. Agora, a ampliação da malha ferroviária, o novo dinamismo do nordeste, a dinâmica do sul da Amazonia ampliam essas perspectivas.
Há um conjunto de ferramentas financeiras facilitando o acesso ao mercado. A principal é o crédito. A mera redução dos juros do creditário significa um enorme ganho no poder aquisitivo do consumidor.
Exemplo: prestação de R$ 100,00 por mês, por 48 meses a uma taxa de juros de 4% ao mês permitirá adquirir um bem no valor de R$ 2.120,00. Se a taxa cair para 0,5% ao mês, com a mesma prestação se conseguirá adquirir bem no valor de R$ 4.2580,00 ou um aumento de 101%.
Conquista do mercado externo
Aí se entra na competição com os produtos internos.
Há um conjunto de características externas à empresa, como o custo país, questões de infraestrutura, financiamento etc. que serão abordados em outro capítulo.
Para o tema de hoje - abertura de mercado e competição externa - há dois tipos de ação.
Uma, de abertura estratégica de mercados. Compõem essa linha acordos comerciais, parcerias entre países, ação diplomática, grandes lances de logística, mecanismos de financiamento etc.
Uma segunda linha é da ação direta sobre preços e concorrência. Entram ai as tarifas de importação, restrições comerciais, barreras sanitárias, hoje em dia penalizadas por legislação internacional no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio).
A segunda linha - sem restrições, por enquanto - é o câmbio, a desvalorização cambial. Esse é o caminho mais imediato para a expansão exponencial dos mercados.

domingo, 29 de julho de 2012

Construindo uma casa de plástico



Polímeros substituem tijolos de argila e dormentes de ferrovias
© EDUARDO CESAR
Descoberto em 1872, o policloreto de vinila, conhecido como PVC, começou a ser produzido industrialmente na década de 1920 nos Estados Unidos e na de 1930 na Europa. Feito a partir do sal de cozinha (cloreto de sódio) e de derivados de petróleo, hoje é um dos plásticos mais usados no mundo em tubos, conexões e tapetes de banheiro, brinquedos, bolsas de sangue e soro. Mais recentemente ele passou a ser usado para substituir tijolos e outros materiais. É o caso de uma tecnologia para construção de casas com paredes de PVC desenvolvida em parceria pela Braskem, Dupont e Global Housing, empresa brasileira com sede em Santa Catarina.
Batizado de sistema construtivo em concreto PVC, ele emprega perfis ou módulos desse tipo de plástico encaixados uns nos outros e preenchidos com concreto (veja o vídeo da montagem). As vantagens são que a casa pode ficar até 20% mais barata, comparando-se com as de alvenaria, e é construída de forma mais rápida, levando oito dias para ficar pronta ante três meses de uma residência convencional de 40 metros quadrados (m2).
São 10 tipos de perfis, cada um com uma função específica. O mais usado em uma construção é o chamado módulo I, que tem 20 centímetros (cm) de largura e 8 cm de espessura e altura variável de acordo com o pé-direito da casa. Há ainda o módulo multifuncional, de 8 por 8 cm, empregado nos cantos e nas divisórias. O único que fica visível depois da moradia pronta é o perfil de acabamento, que encobre os outros, tanto no interior como no exterior, e tem a mesma função do reboco.
O presidente da Global Housing, Gilberto Fernandes, conta que a ideia de desenvolver o concreto PVC surgiu há seis anos, inspirada numa tecnologia semelhante existente no Canadá, onde há pelo menos duas empresas do ramo. Existem ainda outras similares na Austrália, México e Venezuela. ?Num primeiro momento, nós desenvolvemos a ideia, aprimorando e adaptando a tecnologia às condições ambientais e climáticas brasileiras?, explica. ?O segundo passo foi criar uma formulação, para fabricar os módulos.? É aí que entram a Braskem e a Dupont. A primeira fornece a resina de PVC e a segunda o dióxido de titânio, que são usados na composição da fórmula que dá origem aos perfis.
De acordo com o responsável pelo desenvolvimento de negócios de PVC da Braskem, Marcello Cavalcanti, a empresa fornece o produto, em forma de pó, que depois é fundido na fábrica da Global Housing com os outros componentes da formulação. São cerca de 300 toneladas por mês. Além do reboco, o PVC dispensa pintura e revestimento. A cor branca é dada pelo PVC e pelo dióxido de titânio, substância que também protege contra os raios ultravioleta do sol, evitando microrrachaduras e escamações do plástico, preservando o desempenho mecânico e aumentando a durabilidade do produto. ?Mas se o dono da casa quiser pintá-la de outra cor, pode?, garante Fernandes. ?Assim como aplicar ladrilhos, azulejos ou grafiato [revestimento decorativo]. Na verdade, é tudo como numa casa convencional.?
Além dessas vantagens do PVC, que é um tipo de polímero reciclável, Fernandes cita outras, como a resistência à chuva, vento e maresia. ?Esse plástico é imune à ação de fungos, bactérias, insetos, roedores e à maioria dos reagentes químicos?, enumera. ?Sem falar que é um bom isolante térmico, elétrico e acústico; impermeável a gases e líquidos; não propaga chamas e é totalmente reciclável.? Quanto à casa em si, o presidente da Global Housing diz que ela tem paredes com espessuras menores que as tradicionais ? não mais que 8 cm ?, o que gera um ganho de até 7% na área útil. Elas também não racham nem estufam, não deformam e não absorvem água.
A construção da casa não exige mão de obra especializada, apenas treinada. De acordo com Fernandes, essa tecnologia é uma forma inovadora e rápida de construir, em escala industrial, diferentes tipos de edificações de alta qualidade, com pouco uso de madeira e água e desperdício mínimo de materiais. O projeto de uma moradia de concreto PVC começa como os outros, tradicionais. O piso pode ser uma laje de concreto (chamada deradier), que servirá como principal apoio para as paredes de PVC. A Global Housing verifica o projeto e, de acordo com ele, fornece o kit para a montagem da casa. No canteiro de obras basta montar os perfis, seguindo o projeto e as especificações. Não há colunas propriamente ditas, mas nos cantos e no meio de cada parede é colocada uma barra de ferro, do piso até o teto. Além disso, ao longo das paredes, a cada 80 cm, no piso são fixadas pequenas barras de ferro com 60 cm de altura. Todas ficam por dentro das paredes feitas com os módulos, que depois são preenchidas com concreto. Após 24 horas secando, a casa está pronta para a colocação das portas e janelas e do telhado. Por esse sistema podem ser erguidas edificações com até dois andares ? térreo mais o andar de cima ?, como sobrados, por exemplo.
Em termos de custo, o preço do metro quadrado de uma construção com concreto PVC equivale ao de uma tradicional ? algo entre R$ 800,00 e R$ 850,00, dependendo da região do país. ?Mas no final da obra há uma economia de cerca de 20%, principalmente por causa da menor necessidade de trabalhadores?, diz Fernandes. Também contribui para a redução do preço de uma casa de PVC a facilidade de gerenciamento e padronização dos processos construtivos


Depois do desenvolvimento da tecnologia, a empresa catarinense buscou a certificação e homologação de seu sistema construtivo em órgãos públicos. Para isso contou com o auxílio da Braskem. ?Nós ajudamos a Global Housing a conseguir toda a certificação técnica para concreto PVC?, conta Cavalcanti. De acordo com ele, a legislação da construção civil no Brasil só permite que novas modalidades e tecnologias de edificações se beneficiem de financiamentos da Caixa Econômica Federal se passarem pelo Sistema Nacional de Avaliação Técnica (Sinat). Também conhecido como diretriz Sinat, é uma iniciativa da comunidade técnica nacional da construção civil que direciona a avaliação do produto e é organizado pelo Ministério das Cidades. O objetivo é uniformizar e avaliar novos produtos e sistemas construtivos colocados no mercado e visa obter o Documento Técnico de Avaliação (DATec), um certificado que homologa e comprova a qualidade. Por isso, abre as portas para programas habitacionais financiados com recursos públicos, como o Minha Casa Minha Vida.
O sistema construtivo concreto PVC da Global Housing passou pela fase do Sinat. Foi analisado pelo Centro Tecnológico do Ambiente Construído (Cetac) do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), onde foi feito o acompanhamento do sistema de montagem e ensaios de envelhecimento acelerado dos painéis, além de verificação da resistência a impactos, fogo e isolamento acústico. ?Nessa fase o produto foi considerado com bom potencial de desempenho para a construção de casas térreas e sobrados, isolados ou geminados?, disse Luciana Oliveira, pesquisadora e chefe do Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos do Cetac. ?Isso significa que ele pode receber financiamento da Caixa?, explica Cavalcanti, da Braskem. Mesmo antes da diretriz Sinat a empresa conseguiu conquistar uma fatia do mercado imobiliário. Desde que as casas de PVC começaram a ser comercializadas há um ano, foram construídos 20 mil m2 delas no Brasil. ?Elas são de diversos tamanhos, além de creches, escolas, sobrados e até quiosques de praia?, conta Fernandes. ?Hoje produzimos em torno de 400 moradias por mês. A previsão é ampliar esse número para mil.? A Global Housing vai aumentar o número de fábricas em 2012, abrindo unidades, nos estados do Rio de Janeiro, Alagoas e Piauí.
Atuando em outro ramo de mercado, a empresa Wisewood igualmente faz do plástico seu principal negócio. A empresa criada em 2007, com sede em Itatiba, no interior de São Paulo, fabrica a chamada madeira plástica, usada na produção de dormentes de estradas de ferro, decks, revestimentos, pallets, módulos, bancos, lixeiras e rodapés. Trata-se na verdade de um composto denominado tecnicamente wood plastic composition (WPC), produzido a partir de plásticos recolhidos do lixo, como rebarbas de fraldas descartáveis, recipientes de óleo combustível e de detergente e sacos de embalagem.
A Wisewood iniciou suas atividades com a fabricação de dormentes poliméricos para atender a MRS Logística e sua necessidade de substituição de dormentes de madeira. ?Desenvolvemos então uma peça de alta tecnologia e engenharia, para atender a todas as especificações e à enorme resistência mecânica que este mercado exige?, conta o diretor comercial da companhia, Diego Gevaerd. ?Foi um sucesso total e hoje nossos dormentes à base de WPC já estão em teste nas outras duas gigantes do setor de ferrovias: Vale e All.?
Com o tempo, os dormentes deram origem a novas tecnologias e produtos como tábuas e mourões. De acordo com Gevaerd, hoje a empresa recolhe em aterros sanitários e lixões, por meio de cooperativas de catadores, sucateiros e das próprias indústrias, cerca de 1.800 toneladas de plástico por mês, basicamente polipropileno e polietileno. São os chamados plásticos duros, que, adicionados a fibras naturais, passam por um processo industrial, dando origem a um material idêntico à madeira. ?Transformamos o que chamam de ?lixo? em produtos acabados, com aplicações industriais?, orgulha-se Gevaerd. ?Hoje atuamos em nível nacional, mas estamos iniciando atividades em novos mercados no exterior.?
Ele garante que a madeira plástica pode ser manuseada como a natural. Com as mesmas ferramentas ela também pode ser cortada, colada, furada, parafusada, pregada e torneada à vontade. Além disso, tem uma série de outras vantagens. ?É inerte e impermeável, imune a pragas como fungos e cupins, permite ser lavada e não necessita de certificados de fumigação?, enumera Gevaerd. ?Além disso, não precisa de tratamento algum (custo zero de manutenção) e não solta farpas. Sem falar que evita o desmatamento de nossas florestas e uso de madeira de reflorestamento e é uma solução sustentável, por ser um material 100% reciclado e reciclável.?

O que está havendo com o B do Bric


Jim O`Neill
E por falar em cair em desgraça! Parece que foi ontem que muitos se atropelavam para salientar o visível sucesso do Brasil, com alguns ousando dizer que o País alcançaria níveis de crescimento padrão China. Foram dias inebriantes em 2010. Hoje, contra o pano de fundo dos muitos desafios mundiais, o consenso agora fala de um crescimento real do PIB pouco acima de 2,0% em 2012, o que, vindo após os 2,7% de 2011, põe o Brasil numa categoria diferente. Algumas pessoas chegaram a me perguntar se o "B" do Bric é seguro, quase voltando aos primeiros dias de 2001 e 2003, quando as pessoas não acreditavam que "B" pertencesse a circunstâncias tão altaneiras. Circulam também algumas especulações de que o Brasil poderia crescer menos do que os Estados Unidos neste ano, contribuindo para uma sensação de que a história de crescimento brasileiro ou foi exagerada ou está agora fadada a uma considerável decepção.
Permitam-me dar um passo atrás antes de me concentrar nos desafios futuros do Brasil. Na época em que criei a sigla Bric, muitos não haviam percebido as prováveis ramificações positivas das mudanças políticas que precederam a chegada de Lula ao governo e a combinação de uma política fiscal muito melhorada com uma inflação, para os padrões brasileiros, baixa e estável, que permitiriam que o Brasil entrasse num novo clima de estabilidade.
Como eu costumava dizer aos que questionavam o "B" do Brasil, o principal objetivo que o País precisava alcançar era evitar a crise. Muitos achavam que eu estava brincando, mas de uma maneira considerável, foi essa a essência da última década do Brasil. O País não precisou crescer números espetaculares e, ao menos em termos reais, não o fez. A ascensão do Brasil na década de 2000 para superar a Itália e, provavelmente, de maneira temporária, a Grã-Bretanha para se tornar a 6.ª maior economia do mundo em 2011, não decorreu de uma taxa de crescimento do PIB real particularmente forte, mas foi muito influenciada pelo notável fortalecimento do real ante o dólar. No entanto, na medida em que o real permanecia forte, muitos investidores ignoraram os desafios que viriam com isso, e optaram por acreditar que o Brasil poderia surpreender.
O Brasil em 2011 foi o queridinho do Bric, uma posição completamente diferente da que desfrutava 10 anos antes. Em consequência dessas expectativas aumentadas, o Brasil tem hoje mais dificuldade de atender de fato à essas expectativas.
As circunstâncias externas que o Brasil enfrenta precisam ser reconhecidas também. Além da impactante crise na zona do euro - que está engolindo cada vez mais a Espanha -, os números da economia americana continuam medíocres e, claro, existe uma desaceleração na China. As pessoas que estavam acostumadas à sede de commodities da China na última década estão tentando perceber a diferença entre uma China que, embora crescendo a uma taxa mais lenta que na década anterior e se concentrando em qualidade, é mais sustentável do que a que crescia a 10% e estava comprando commodities de quase toda parte.
Como eu também adverti com frequência, não se poderia realmente descrever o grau de mudança do Brasil até experimentarmos um período de preços das commodities mais moderados. Embora houvéssemos testemunhado isso em 2009, após os primeiros efeitos da crise do crédito de 2008, a experiência foi muito breve. Em 2012, com a China se centrando cada vez mais em qualidade e menos em quantidade, talvez estejamos entrando num período de testes mais significativos. Seja como for, isso é um lembrete a países como o Brasil de que fatores externos nem sempre são benignos, e que o destino do Brasil está, em última instância, em suas mãos.
Olhemos agora mais de perto o desempenho do crescimento brasileiro em sua existência como Bric, isto é, de 2001 para cá. Em 2011, o Brasil desapontou com um crescimento de "meros" 2,7%. De 2001 a 2010, o Brasil cresceu numa média em torno de 3,7%, nada espetacular. Como mencionei anteriormente, o País cresceu mais espetacularmente em termos de dólares, mas isso por causa da valorização do real. Durante essa década de crescimento médio de 3,7%, houve três anos de uma decepção bastante notável: 2,7% em 2001; 1,1% em 2002; 1,1% em 2003; e, como se sabe, em 2009, o PIB real encolheu cerca de 0,3%. Contra esse quadro, houve quatro anos de crescimento acima de 5,0%, destacando-se 2010, com 7,5%.
O que tudo isso me diz é que o crescimento brasileiro gira em torno da tendência do momento e, por isso, assim como ele foi muito decepcionante em 2001 e 2002, mesmo que o PIB real cresça "apenas" 2% no corrente ano após o decepcionantes 2,7% de 2011, isso não significa que esta seja a nova tendência. E, para os mercados brasileiros, se esses desenvolvimentos resultarem em expectativas mais realistas, isso não é uma coisa ruim.
Dito isso, nós supusemos - em contraste com os outros três países do Bric - que o crescimento desta década se aceleraria para cerca de 4,5% a 5,0%, de modo que o Brasil precisará de ainda mais anos de crescimento acima de 5,0% para isso ser satisfeito. Ainda não tenho bases reais para mudar nossos pressupostos sobre o crescimento para a década.
O Brasil está numa posição razoavelmente boa em medidas comparáveis de crescimento sustentável e produtividade em relação aos outros países do Bric, embora esteja, como os outros, bem abaixo do melhor da classe no mundo desenvolvido. No Índice de Condições de Crescimento (GES, na sigla em inglês) do Goldman Sachs, o Brasil figura com 5,4 em 10, o que o reúne no alto à China entre os países do Bric, mas bem atrás dos 7,7 da Coreia do Sul. Como já sugeri algumas vezes este ano, o Brasil faria bem em enviar uma delegação para visitar a Coreia e descobrir o que eles conseguiram aprender, e talvez imitá-la.
Em termos de alguns desafios, eu vejo alguns bons sinais. O real perdeu sua devoção obsessiva aos mercados cambiais e, apesar de ainda estar provavelmente forte demais para ajudar a indústria brasileira, ele claramente não é um problema tão grande como foi nos últimos anos.
E, quanto a isso, eu admiro as medidas agressivas do Banco Central para baixar as taxas de juros, o que poderá permitir um ambiente mais favorável ao investimento privado, além de ajudar no desafio da moeda.
O Brasil decepcionou claramente as pessoas nos últimos trimestres, mas tal como a noite segue o dia, assim que os investidores mudarem suas expectativas, eles ficarão surpresos. Sem querer diminuir o desafio que o Brasil precisa superar para atingir a média de 4,5% a 5,0% que supusemos para 2011-2020, uma comparação direta com os dois primeiros anos da década passada indica um forte começo para esta! Com a Copa do Mundo em 2014 e a próxima Olimpíada em 2016, o Brasil ainda vai ficar muito tempo na berlinda.
Recentemente, autoridades brasileiras importantes vieram a Londres como muitas outras de todo o mundo para assistir aos Jogos Olímpicos. Tive a sorte de conversar com algumas delas, e fiquei impressionado com o que ouvi em termos de compromisso como uma série de medidas políticas, que, se forem implementadas, começarão a fazer os analistas pensarem que a taxa de crescimento do Brasil poderá aumentar. Será interessante ver uma nova virada nas expectativas consensuais./ TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Mamãe Poderosa



22 de julho de 2012 | 3h 11 Aliás

Marcelo Medeiros - O Estado de S.Paulo

No início da semana o Yahoo contratou Marissa Mayer, de 37 anos, para dirigir suas operações. O fato ganhou destaque não tanto por ela ser mulher, afinal a segunda executiva mais importante do Facebook também é, mas porque Marissa está no sexto mês de gravidez.
Há cada vez mais mulheres ocupando postos-chave nos negócios e na política, o que ocorre porque barreiras no reconhecimento da capacidade de liderança delas vêm sendo rompidas. Chefes de Estado, diretoras de empresa e generais de exército mulheres ainda são minoria, mas não causam mais o assombro que causariam há três décadas.
Entre o fim do assombro e a igualdade há uma grande distância. A notícia de um homem assumindo um cargo importante a poucos meses de ter um filho passaria despercebida. Isso porque a emancipação do trabalho feminino não foi acompanhada de mudanças na divisão do trabalho dentro das famílias, nem no que se considera responsabilidades familiares. Ainda recai sobre as mães a maior parte do cuidado dos filhos e são elas que precisam fazer escolhas entre carreira e família. Ninguém se preocuparia seriamente com o risco de um homem ter seu trabalho afetado por causa de um filho. Nesse aspecto, o mundo mudou bem pouco: a ideia de ser apenas dono de casa para cuidar de uma criança, ainda que por poucos meses, provoca arrepios em qualquer homem, mas é considerada natural entre as mulheres.
Marissa deverá voltar ao trabalho logo após o parto - não apenas porque quer, mas porque pode. É uma mulher rica e poderosa, casada com um executivo igualmente rico e poderoso, e receberá US$ 12 milhões anuais, mais que suficientes para contratar quem cuide de sua família em tempo integral. Marissa não assume cargo tão importante porque as barreiras à maternidade deixaram de existir, mas porque consegue se comportar como um homem: transferindo aos outros boa parte do trabalho de cuidar de crianças.
Esse é um luxo impensável para as mulheres comuns em trabalhos comuns. Para elas, a escolha é entre uma segunda jornada ao chegar em casa e abandonar o emprego. A ideia de que a responsabilidade pelo cuidado das crianças é das mulheres, e de elas devem estar disponíveis para isso, é tão arraigada que poucas de nossas instituições transferem para o espaço público aquilo que se julga dever privado. Basta notar que são poucas as creches gratuitas, não temos escolas em tempo integral, com anos letivos longos, nem horários de trabalho compatíveis com o transporte de crianças da casa à escola.
Em um mundo que aceita bem presidentas, mas tem aversão a donos de casa, o trabalho doméstico ainda é tabu do machismo. Seria ingênuo achar que os homens, em um lampejo de generosidade, passarão a dividir esse trabalho com as companheiras. Seria mais realista entender que a família não é a única instituição capaz de cuidar de crianças e que essa é uma responsabilidade coletiva.
Creches, pré-escolas e escolas em tempo integral podem soar como utopia. Mas talvez ajude a reduzir resistências lembrar que o ensino básico gratuito também já foi considerado utópico. Como qualquer outra, a responsabilidade de cuidar de crianças tem seus custos. Até o momento, temos sido capazes de arcar com eles. Mais exatamente, as mulheres têm sido, e vêm pagando com seu tempo. A questão fundamental é se estamos dispostos a transferir esses custos da esfera privada para a esfera pública, como fazemos com vacinas e segurança.
Tempo livre é algo muito importante. Não à toa uma das exigências de Marissa Meyer em seu contrato é terminar o expediente rigorosamente às 5h30, para que possa todos os dias jantar com a família. Adianta muito pouco ter dinheiro sem ter tempo livre para usufruir o que esse dinheiro pode comprar, assim como aproveitar as coisas que dinheiro algum pode comprar. Um reflexo disso é a preocupação crescente em vários países em conciliar trabalho, lazer e família.
Nossa divisão do tempo, no entanto, é tremendamente injusta. Pesquisas brasileiras de uso do tempo mostram que, depois da entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho, quando o tempo de trabalho pago é somado ao tempo de trabalho doméstico, a disponibilidade feminina de tempo livre é muito inferior à masculina, marcadamente entre as classes sociais mais baixas.
A emancipação profissional das mulheres caminha no sentido inverso da liberdade de tempo porque a igualdade obtida no mundo do trabalho não tem contrapartida nem no mundo doméstico, nem nos serviços públicos. Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, a privação de tempo livre e a dificuldade em conciliar o trabalho com o resto da vida não são problemas das grandes executivas, mas das mulheres comuns. 
MARCELO MEDEIROS É SOCIÓLOGO, PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLI
A

Maior parte dos estados e municípios carece de plano de resíduos sólidos




A partir de 2 de agosto, a cidade que não tiver o planejamento fica impedida de solicitar recursos federais para limpeza urbana. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, até o momento houve apenas 47 pedidos de verba para construção dos planos, entre solicitações de administrações municipais e estaduais. Verba disponível escassa e falta de capacitação técnica são apontadas como principais causas do problema.



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 segundo a nova lei, os lix?s devem ser extintos no brasil at?2014
Lixões devem ser extintos no Brasil até 2014, segundo a nova lei. Na foto acima, o Lixão da Estrutural, em BrasíliaFoto: Wilson Dias/ABr
A maior parte dos estados e municípios brasileiros ainda não elaborou seu Plano de Gestão de Resíduos Sólidos, apesar do prazo para concluir o projeto, que deve indicar como será feito o manejo do lixo em cada localidade, estar próximo do fim. A partir de 2 de agosto, a cidade que não tiver o planejamento fica impedida de solicitar recursos federais para limpeza urbana. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, até o momento houve apenas 47 pedidos de verba para construção dos planos, entre solicitações de administrações municipais e estaduais.
Como não é obrigatório pedir auxílio da União para elaborar os planejamentos, pode haver projetos em curso dos quais o ministério não tenha ciência. Mas a avaliação do órgão é a de que o interesse pela criação dos planos de gestão é baixo, mesmo que se leve em conta estados e municípios atuando por conta própria. “O pessoal tinha outras demandas e foi deixando de lado. Agora o prazo está se esgotando e a maioria não elaborou [o projeto]”, afirmou Saburo Takahashi, gerente de projetos da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente.
As cidades e unidades da Federação tiveram dois anos para construir seus planos de manejo de resíduos, cuja criação está prevista na Lei n° 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. As consequências do pouco comprometimento com a exigência federal poderão ser sentidas cedo por estados e municípios. “De acordo com a legislação, até 2014 devem ser eliminados todos os lixões do Brasil. Para isso, será preciso implantar aterros sanitários, o que não se faz da noite para o dia. As cidades e estados que não tiverem plano de gestão não vão poder solicitar recursos para fazer isso”, destacou Takahashi.


Alguns [Não criaram o plano] por ignorância, outros por desconhecimento técnico"

Elaine Nolasco,pesquisadora em meio ambiente da UnB
O representante do ministério reconheceu, porém, que a verba disponível para ajudar municípios e unidades da Federação a elaborar os planos é escassa. Em 2011, houve destinação de R$ 42 milhões para essa finalidade, dos quais R$ 36 milhões foram usados. Em 2012 não foi disponibilizado dinheiro, e o governo federal limitou-se a liberar os R$ 6 milhões que não haviam sido executados no ano passado.
Capacitação e conscientização
Saburo Takahashi ressaltou, no entanto, que o ministério redigiu um manual de orientação para ajudar prefeitos e governadores na elaboração do plano, disponível no site do órgão. Além disso, a pasta firmou convênio com a e-Clay, instituição de educação a distância que pode treinar gratuitamente gestores para a criação do plano de manejo. Os interessados devem entrar em contato pelo telefone (11) 5084 3079.
A pesquisadora em meio ambiente Elaine Nolasco, professora da Universidade de Brasília (UnB), considerou positiva a capacitação a distância, mas acredita que para tornar a gestão de resíduos uma realidade é preciso mais divulgação desse instrumento, além da conscientização sobre a importância do manejo do lixo. “Tem que haver propaganda, um incentivo para as pessoas fazerem isso [o curso]”, defendeu. Elaine observa que a dificuldade para introdução de políticas de manejo (como reciclagem e criação de aterros sanitários) atinge sobretudo os municípios pequenos, com até 20 mil habitantes. “Faltam recursos e contingente técnico nas pequenas prefeituras”, pontuou.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), João Zianesi Netto, também avalia que faltou capacitação e conscientização. “Alguns [Não criaram o plano] por ignorância, outros por desconhecimento técnico. Em muitos municípios de pequeno e médio porte, a destinação dos resíduos é gerenciada por pessoas que não têm a formação adequada. Além disso, há uma preocupação de que quando você começa a melhorar a questão ambiental você aumenta os custos”, enfatizou.
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziluldoski, reclamou da falta de auxílio financeiro para que as prefeituras cumpram as determinações da Lei n°12.305. Segundo ele, são necessários R$ 70 bilhões para transformar todos os lixões em aterro sanitário, até 2014. “Isso equivale à arrecadação conjunta de todos os municípios do país. Quando acabar o prazo, os prefeitos estarão sujeitos a serem processados pelo Ministério Público por não terem cumprido a lei”, lembrou. De acordo com ele, a estimativa da CNM é que mais de 50% das cidades brasileiras ainda não elaboraram os planos de gestão de resíduos.

USP forma primeiro centro do país a unir pesquisadores de resíduos sólidos


Thiago Minami, especial para USP Online
Centro mulltidisciplinar envolve especialistas em tecnologia, saúde, direito e meio ambiente, entre outras áreas | Foto: Wikimedia
A produção de lixo no Brasil está aumentando. Em 2010, o país gerou 60,8 milhões de toneladas – 6,8% a mais que em 2009 e seis vezes mais que o crescimento populacional do período. Mais de 40% dessa quantidade vão parar em lixões ou aterros controlados, que causam prejuízos ao meio ambiente e à saúde de trabalhadores do setor.
Recém-criado e primeiro numa universidade brasileira, o Centro Multidisciplinar de Estudos em Resíduos Sólidos (CeRSOL) da USP quer usar a expertise acadêmica para ajudar a reverter a situação. Mais de 50 pesquisadores, incluindo cerca de 20 professores, estão em contato para debater o tema e colaborar em pesquisas, seminários e publicações. O objetivo é ampliar o conhecimento na área e encontrar soluções tecnológicas em consonância com as diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Cada um contribui com os estudos que realiza sob a perspectiva da área em que atua: engenharia, energia e urbanismo, além de direito, medicina, ciências humanas e economia. Especialistas da Unicamp e da PUC-SP também fazem parte do grupo. “Queremos levar nossos trabalhos a prefeituras, industrias e à sociedade em geral”, planeja Jorge Alberto Soares Tenório, coordenador do grupo e professor da Escola Politécnica (Poli) da USP.
Para compreender de modo abrangente o tema dos catadores de lixo, por exemplo, é preciso passar por diferentes áreas de pesquisa. Primeiro, as ciências humanas e a educação avaliam os mecanismos de inserção social e o exercício da cidadania pelos profissionais. Depois, dentro da área legal, é necessário entender os aspectos legais e como se dá a organização do trabalho. À medicina e à saúde pública, cabe avaliar as condições de saúde dos catadores, que podem ser afetadas pelo trato com resíduos. Já a tecnologia vê o modo como eles podem contribuir para a valorização dos resíduos e, assim, aumentar os ganhos para a sociedade.

Metas

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Os dados expostos no início da reportagem mostram o tamanho do desafio que o país tem pela frente. Eles fazem parte da pesquisa Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil 2011, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Medidas efetivas e integradas para resolver o problema estão em discussão no momento. O ponto de largada foi a PNRS, elaborado pelo governo federal em 2010.
A Política prevê a eliminação dos lixões e a criação de metas para a reciclagem no Brasil. “Atualmente, a região da grande São Paulo recicla menos de 2% do que é gerado. O ideal seria elevar esse índice para pelos menos 20%”, aponta Tenório. A Suécia, campeã do mundo no assunto, recicla atualmente mais de 70% do lixo.
A elevação das metas é um objetivo mundial. “O interesse sobre o assunto cresce em todo o mundo, e também no Brasil. Mas para a gente, diferentemente de Europa ou Japão, a grande oferta de espaço físico faz a questão não parecer tão urgente. Precisamos reverter isso”, diz Denise Crocce Romano Espinosa, professora da Poli e membro do CeRSOL.
O CeRSOL está organizado em diferentes coordenações: educação ambiental, direito ambiental, políticas públicas, medicina ocupacional, tecnologia e cadeias produtivas.

Interação

Ainda que iniciado recentemente, o CeRSOL já organizou um seminário internacional no último mês de junho na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, com a presença de pesquisadores de sete países europeus para apresentarem as experiências no tema. Foi durante esse evento que o centro foi oficialmente lançado.
A comitiva da USP no Rio+20 e o evento São Paulo Mais Limpa, com a Rede Globo, também contaram com ampla presença de integrantes do CeRSOL.
A necessidade de integração entre diferentes faculdades e as eventuais divergências de opiniões entre especialistas de diferentes áreas são vistas com bons olhos pelos membros. “Elas existem e podem ser muito frutíferas a todos. Assim podemos desenvolver uma visão consistente de todos os aspectos envolvidos na questão”, diz Denise Espinosa.
Mais informações: jtenorio@usp.br

IPT terá planta piloto para gaseificação de biomassa


Prover os dados necessários para estabelecer um projeto conceitual de uma planta industrial de gaseificação com capacidade de processar 400 mil toneladas anuais de bagaço e palha de cana-de-açúcar é o objetivo do projeto da planta piloto do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em Piracicaba.
“Isso equivale à metade do bagaço e palha gerados por uma usina típica nos dias de hoje, que faz a moagem de 4 milhões de toneladas de cana. Segundo a nossa projeção, baseada nos 5% anuais de taxa de crescimento do setor sucroalcooleiro nos últimos 20 anos, 140 novas usinas serão implantadas na próxima década. É nesse universo que estamos focando: as novas usinas, as green-fields da década de 2020”, disse Fernando Landgraf, diretor de inovação do IPT.
Segundo Landgraf, a planta piloto está sendo projetada para testar algumas das possíveis soluções para a planta industrial. Uma característica especial do projeto é ter escolhido a rota de gaseificação pela técnica de “fluxo de arraste”, adotada para a gaseificação de carvão mineral em grande escala na China e na Europa.
“A questão é que a gaseificação de biomassa exige um pré-tratamento muito diferente do carvão mineral. É necessário transformar o bagaço em um pó torrado ou em um óleo pirolisado. O estágio técnico atual do projeto é o da definição conceitual da planta piloto, ou seja, a escolha do processo de torrefação e de pirólise, os detalhes construtivos do reator de gaseificação e os processos de limpeza do gás. Temos 30 pesquisadores do IPT trabalhando nisso”, disse Landgraf.
Ao mesmo tempo, o IPT completa a negociação do contrato com o Governo do Estado de São Paulo, BNDES, Finep e as empresas Oxiteno, Petrobras e Vale Soluções em Energia. A negociação dos direitos da propriedade intelectual levou mais de um ano.
“Esperamos que o contrato seja assinado em outubro deste ano. Também estamos articulando junto com a Universidade de São Paulo e a Universidade Estadual de Campinas um Projeto Temático na FAPESP. O objetivo é estudar aspectos científicos envolvidos no processo que vai da cana ao gás”, disse Landgraf.
O projeto terá duração de cinco anos, o primeiro para o projeto básico e detalhado, dois anos de construção, outro para “por em marcha” e o último ano de operação.
“Ao final, sendo bem-sucedidos, deveremos desenvolver novo projeto em três anos para a otimização até chegar ao ponto de definir o conceito de uma planta industrial cujo investimento de capital não poderá ultrapassar US$ 1.200 por quilowatt térmico”, disse Landgraf. A capacidade da planta piloto será de 1 tonelada por hora de bagaço seco.
Landgraf será um dos palestrantes no Simpósio de Gaseificação de Biomassa, que será realizado na FAPESP no dia 17 de setembro de 2012.
O simpósio terá palestras de especialistas de diversos países com o objetivo de apresentar experiências e lições aprendidas em projetar e operar plantas piloto/demonstração de gaseificação. (Fonte: Agência Fapes)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O novo desenvolvimento e o papel do Estado - 1


Coluna Econômica - 27/07/2012 blog do Luis Nassif
Desde o advento da economia, como ciência, o mundo oscila em torno de um movimento pendular: uma, a do liberalismo econômico, de deixar as rédeas da economia por conta dos mercados; o outro, de uma atuação proativa do Estado.
No século 19 monta-se, pela primeira vez, modelos de articulação global da economia, regulados pelo grande capital. E consolida-se um novo conhecimento econômico, todo um arcabouço teórico visando maximizar os ganhos do grande capital.
Para se desenvolver, dizia-se, bastaria países abrirem todas suas portas para o grande capital. À medida em que os países centrais fossem se desenvolvendo, tornar-se-iam caros e a tendência seria o transbordamento do capital para países emergentes.
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Ainda nas primeiras décadas do século 19, pensadores insurgiam-se contra essa lógica e desenvolviam os primeiros princípios de economia política. Para um país se desenvolver deveria ampliar mercados para seus manufaturados, na fase inicial da industrialização proteger sua indústria, tratar de importar matéria prima e exportar manufaturados, montar estratégias diplomáticas visando expandir o comércio exterior, pensar estrategicamente na logística e no câmbio.
***.
NO final do século 19, países que definiram estratégias proativas de desenvolvimento, como EUA, Japão e Alemanha, lograram se beneficiar da enorme expansão financeira internacional. Países que assumiram posição passiva – como o Brasil– perderam o bonde.
A extrema volatilidade dos capitais privilegiava apenas o curto prazo e as jogadas pesadas em cima de concessões e serviços públicos. A instabilidade cambial impedia a consolidação de um movimento sólido de substituição de importações.
Mesmo assim, o pensamento dominante se espalhava por todo o mundo através da rede de bancos centrais – liderada pelo Banco da Inglaterra.
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Nesses três séculos, o mundo testemunhou a ascensão de duas potências ocidentais, Inglaterra e Estados Unidos. Em ambos os casos, a construção da hegemonia foi trabalho minucioso, que exigiu ampla intervenção do Estado. Depois de consolidada a hegemonia, ambos os países passam a defender o livre comércio para todas as nações – pela relevante razão de que eram as economias mais poderosas do planeta e, portanto, em condições de esmagar qualquer concorrente.
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Nesse século, o Brasil experimentou um liberalismo merreca nas três primeiras décadas dos anos 30. Depois, um processo proativo de intervenção do Estado, que começa com Getúlio Vargas nos anos 30, estende-se por JK, passa pelo regime militar e se esgota em fins dos anos 70.
Segue-se um período de caos e de germinação de novas ideias. E, em seguida, um longo período de liberalização, que se inicia na gestão Marcilio Marques Moreia, no governo Collor e termina com a saída de Antônio Pallocci no governo Lula.
Agora, inicia-se uma nova fase, com a opinião pública mundial exposta à influência do capitalismo de Estado da China.
O grande desafio será a implementação de uma política de Estado sem os exageros dos anos 70, mas sem a leniência das duas últimas décadas.
Sobre isso falaremos nas próximas colunas.

Alphaville, em SP, poderá ter acesso por meio de trem


BRUNO RIBEIRO - Agência Estado
O centro de Alphaville, região de condomínios de luxo em Barueri, na Região Metropolitana de São Paulo, deverá ganhar uma linha de trem interligada com a Linha 8-Diamante da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). O governo do Estado informou ontem que vai contratar o projeto funcional da nova linha nos próximos dias.
As obras do ramal, entretanto, devem começar somente no fim de 2014, ou até mesmo em 2015, segundo o secretário de Estado dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes. Ele afirmou que, até o fim da atual gestão, em 2014, fará todos os projetos: funcional, básico e executivo. E, "depois de 2014", executará as obras.
"O modal da linha vai ser definido pelo projeto funcional, até porque é o projeto que vai identificar a demanda exata da linha. Pode ser um monotrilho, um VLT (veículo leve sobre trilhos) ou outro modelo", disse o secretário, incluindo ainda um trem convencional entre as opções.
"É uma linha nova. Não tínhamos muitos planos para executar esse projeto. Mas a população de lá passou a questionar por que não poderia haver uma linha de trem para atender Alphaville", completou o secretário.
O traçado que será estudado é um "U" invertido, partindo da Estação Sagrado Coração, chegando à Estação Barueri (ambas na Linha 8). Planos antigos apresentados pelo Metrô, em 2010, propunham outro traçado - saindo da Estação Antônio João, na mesma cidade, até Carapicuíba (também na Linha 8). O investimento necessário para tirar o ramal do papel não foi estimado pelo governo.
Nova estação
A Favela do Moinho, no Bom Retiro, região central de São Paulo, vai virar uma estação de trem, conectada com as Linhas 7-Rubi e 8-Diamante. O projeto funcional já está em andamento. A ideia é desafogar a Luz, superlotada desde a inauguração da Linha 4-Amarela do Metrô, no ano passado. A estação será projetada tanto para funcionar na superfície quanto para ser subterrânea. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Luz, câmera, esculhambação


João Ubaldo Ribeiro - O Estado de S.Paulo
Meu avô de Itaparica, o inderrotável Coronel Ubaldo Osório, não era muito dado a novas tecnologias e à modernidade em geral. Jamais tocou em nada elétrico, inclusive interruptores e pilhas. Quando queria acender a luz, chamava alguém e mantinha uma distância prudente do procedimento. Tampouco conheceu televisão, recusava-se. A gente explicava a ele o que era, com pormenores tão fartos quanto o que julgávamos necessário para convencê-lo, mas não adiantava. Ele ouvia tudo por trás de um sorriso indecifrável, assentia com a cabeça e periodicamente repetia "creio, creio", mas, assim que alguém ligava o aparelho, desviava o rosto e se retirava. "Mais tarde eu vejo", despedia-se com um aceno de costas.
O único remédio que admitia em sua presença era leite de magnésia Phillips, assim mesmo somente para olhar, enquanto passava um raro mal-estar. Acho que ele concluiu que, depois de bastante olhado, o leite de magnésia fazia efeito sem que fosse necessário ingeri-lo. Considerava injeção um castigo severo e, depois que as vitaminas começaram a ser muito divulgadas, diz o povo que, quando queria justiçar alguma malfeitoria, apontava o culpado a um preposto e determinava: "Dê uma injeção de vitamina B nesse infeliz." Dizem também que não se apiedava diante das súplicas dos sentenciados à injeção de vitamina, enquanto eram arrastados para o patíbulo, na saleta junto à cozinha, onde o temido carcereiro Joaquim Ovo Grande já estava fervendo a seringa. (Naquele tempo, as seringas eram de vidro e esterilizadas em água fervente, vinha tudo num estojinho, sério mesmo.)
- Amoleça a bunda, senão vai ser pior! - dizia Ovo Grande, de sorriso viperino, olhos faiscantes e agulha em riste, numa cena a que nunca assisti, mas que não devia ser para espíritos fracos.
- Sim, mas acabo fazendo a biografia de meu avô e não chego ao assunto, que, pelo menos quando me sentei faz pouco para escrever, tinha a ver com fotografia. O coronel não evitava codaques, nome por que chamava indistintamente qualquer máquina fotográfica, mas só admitia ser fotografado se houvesse a preparação que ele considerava essencial. Nada do que então se chamava "instantâneo". Ele fazia a barba, tomava banho, vestia paletó e gravata, botava perfume e posava imóvel como uma rocha, diante da codaque. Daí a um mês, mais ou menos, as fotos voltavam, reveladas e copiadas, de um laboratório da cidade - e sua chegada era uma espécie de festa, que reunia parentes, amigos e correligionários.
Se o coronel estivesse vivo hoje, acho que acabaria tomando o leite de magnésia. Aproxima-se o dia em que seremos filmados, fotografados e monitorados em absolutamente todas as circunstâncias, inclusive no banheiro. Claro, reconheço que deliro um pouco, mas somente um pouco, quando imagino que, num futuro em que a água será escassa, cada morador terá cotas para todo tipo de uso da água e sofrerá penalidades diversas, se ultrapassá-las. Facilmente, a monitorização saberia quantas vezes e com que finalidade o freguês usou o vaso, estatística talvez considerada indispensável para a formulação de políticas sanitárias e de saneamento básico. Não saberemos como teremos vivido sem isso, até então.
Entrando em elevadores, dei para perceber gente olhando para as câmeras e se ajeitando como se fosse entrar no ar dentro de alguns instantes. Algumas moças chegam mesmo a passar a mão na nuca e ajeitar faceiramente os cabelos com um movimento de cabeça, como nos comerciais de xampus. Foi-se a manobra, tão praticada em gerações pretéritas, em que, tendo-se a sorte de encontrar no elevador a dadivosa e adrede acumpliciada vizinha do 703, apertava-se o botão de emergência, parava-se a cabine entre dois andares e davam-se os dois a um furtivo e inesquecível pecadilho da carne. O clipe já estaria no YouTube assim que ambos chegassem em casa, com dezenas de "visualizações", inclusive do marido e da família da vizinha.
Antigamente, a gente só tinha que dizer "que gracinha", "que beleza" ou "muito interessante" umas duas ou três vezes por amigo de boteco, no máximo. Era quando ele mostrava a foto da última neta, o retrato de toda a família junta ou um documento velho. Hoje a gente assiste a várias dezenas de clipes de celulares e sucessões de slides por dia, enquanto todo mundo fotografa e filma todo mundo, o tempo todo.
E outro dia, num noticiário de tevê, apareceu a notícia de um sequestro relâmpago em que um dos sequestradores filmou tudo com seu celular. Fico querendo adivinhar qual a razão para isso e me ocorre que, em muitos criminosos, suas ações talvez despertem um certo orgulho autoral e eles agora têm muitos recursos para documentar seus feitos para a História. De qualquer maneira, presenciamos o primeiro making of de um ato criminoso e espero somente que algum filósofo francês não saiba disso e publique um livro designando essa atividade como uma nova forma de arte, para que depois um porreta de uma agência governamental qualquer ache isso científico e premie com absoluta impunidade qualquer assalto, ou semelhantes, para o qual o seu autor haja preparado um making of de qualidade, gerando empregos e estimulando a arte. É bom viver onde o seguinte diálogo pode ocorrer:
- Então, como se foi de assalto hoje?
- Ah, legal. Só faltou me levar as calças, mas em compensação a crítica considera esse cara o melhor diretor de filmagem de assalto do Brasil, tablete de 12 megapixels, tudo muito profissional. Desta vez eu saio no Fantástico com certeza.