sexta-feira, 30 de setembro de 2011


Polo de pesquisa vai ocupar 10% da ilha

A procura por lotes foi tão acirrada durante a licitação que a área foi ampliada em 250 mil metros quadrados
RIO – O Estado de S.Paulo
O polo de pesquisas ocupará uma área correspondente a 10% da Ilha do Fundão, o que é insuficiente para atender à demanda das multinacionais que estão interessadas em se instalar no País. Nos últimos lotes do polo, a disputa foi tão acirrada em licitação, que decidiu-se ampliar a área em mais 250 mil metros quadrados.
A nova área, diz o presidente do Parque Tecnológico, Maurício Guedes, ainda está sendo negociada com o Exército, mas 45 mil metros quadrados já foram destinados ao maior centro de pesquisas mundial da General Electric (GE). Ao todo, serão US$ 550 milhões em um centro destinado não só à geração de energia e tecnologia da informação, mas também à saúde.
Anunciado em janeiro do ano passado pelo presidente mundial, Jeffrey Immelt, o projeto já está em fase final de engenharia.
A franco-americana Schlumberger viu na região a oportunidade ideal para desenvolver um laboratório. Foram US$ 35 milhões investidos no centro de pesquisa que reproduzirá temperatura e pressão idênticas às amostras obtidas no pré-sal, para ampliar o conhecimento sobre as rochas e dimensionar o potencial da produção. A previsão da empresa é que a nova unidade seja inaugurada até o fim deste ano. A americana Baker Hughes investiu US$ 30 milhões em um centro para adaptar os equipamentos que geram imagens das rochas por meio de ondas sonoras e magnéticas emitidas durante a perfuração do poço.
Fora do Parque Tecnológico, a britânica Rolls-Royce planeja instalar no Rio o quinto centro de excelência mundial. A empresa investirá US$ 60 milhões para capacitar engenheiros no Brasil e promover intercâmbio entre profissionais locais e estrangeiros. “Teremos uma sala 3D para reproduzir os equipamentos e promover desenvolvimento acelerado da capacitação dos profissionais”, afirma Francisco Itzaina, presidente da Rolls Royce para a América do Sul. / K.L.

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'Ilha do Petróleo', no Rio, pode ser o maior centro de pesquisa do mundo

Complexo reúne laboratórios das 16 principais multinacionais de tecnologia do setor, com investimentos de US$ 500 milhões

25 de setembro de 2011 | 3h 07
KELLY LIMA / RIO - O Estado de S.Paulo
Em área de 400 mil metros quadrados na Ilha do Fundão, no Rio, que já vem sendo chamada de "ilha do petróleo", estão sendo construídos alguns dos principais centros de pesquisa e desenvolvimento do setor no mundo. O complexo agrega as 16 principais multinacionais de tecnologia do setor, que já destinaram US$ 500 milhões ao projeto de construção de laboratórios.
A expectativa das empresas é, no mínimo, equiparar o polo do Rio ao da cidade texana de Houston, referência mundial e considerada atualmente "a capital do petróleo".
Maior aposta de crescimento da economia brasileira até 2020, a produção de petróleo no pré-sal é o centro de atração dos projetos tecnológicos. O complexo do Fundão terá prédios futuristas no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e no entorno do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobrás (Cenpes), já considerado de excelência em projetos de prospecção em águas profundas.
A principal vantagem apontada por técnicos é que, diferentemente de Houston, onde as empresas ficam afastadas, no Parque Tecnológico do Rio estarão concentradas.
"Esse tipo de concentração traz oportunidade única no mundo. É uma intensa troca de inovação e experiência, voltada especificamente para desenvolver a melhor e mais ampla tecnologia para o pré-sal", sintetiza Maurício Guedes, presidente do Parque Tecnológico.
O complexo vem sendo construído aos poucos. Deve estar operando integralmente a partir de 2013. "Certamente veremos um salto de qualidade na engenharia de projetos dentro de quatro ou cinco anos", estima.
Hoje, a tecnologia usada para explorar o pré-sal da Bacia de Santos é a mesma desenvolvida para o pós-sal. A produção ainda é considerada experimental.
Distante 300 quilômetros da costa e a uma profundidade superior a 7.000 metros, o óleo dos reservatórios abaixo da camada de sal na Bacia de Santos possui particularidades que exigem outra concepção.
Sem manutenção. O engenheiro Carlos Thadeu Fraga, presidente do Cenpes, diz que a meta da companhia para a exploração das áreas é eliminar a necessidade de plataformas de superfície e colocar toda tecnologia de separação do óleo e da água, bem como o processamento, em cápsulas submarinas resistentes ao desgaste do sal e com capacidade para operar por 20 anos sem necessidade de manutenção.
Essas plantas funcionarão movidas por geradores elétricos submarinos que bombearão petróleo e gás, por dutos no fundo do Atlântico, para estações coletoras a centenas de quilômetros de distância.
"A planta instalada na superfície exige energia para puxar o petróleo do fundo do mar, além de injetar água para pressionar a expulsão deste óleo de seus reservatórios. Se a planta desce para o fundo, eliminamos a necessidade de gerar energia por um percurso de 3.000 metros de água, com elevada instabilidade. Este é o principal desafio mundial hoje", afirmou Roberto Leite, diretor de Pesquisa & Desenvolvimento da Chemtech, braço da alemã Siemens para engenharia e TI, instalada no Parque Tecnológico.
Exemplo. Até hoje a instalação de equipamentos de produção no fundo do mar possui como maior exemplo a tentativa da plataforma de Perdido, da Shell, que teve custo aproximado de US$ 3 bilhões, no Golfo do México. A unidade foi montada sobre um cilindro de aço flutuante na mesma distância da costa que o pré-sal de Santos.
A automação é completa e os dados da unidade são analisados de uma base de engenheiros em New Orleans.
Considerada uma nova fronteira na exploração e produção, a experiência terá que ser superada, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Ele afirma que o elevado custo poderia inviabilizar a operação do pré-sal. Hoje, a Petrobrás sustenta o valor de US$ 40 por barril como mínimo necessário para garantir a extração.
"Considerando que o petróleo mais recente no mundo foi apresentado a um custo viável de US$ 70 por barril, o nosso está bastante adequado", diz o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa. Para ele, cada US$ 1 reduzido no custo exploratório e de desenvolvimento é comemorado. Desde a descoberta das reservas a Petrobrás conseguiu, com novas tecnologias, reduzir de US$ 240 milhões para US$ 60 milhões o custo de perfuração de um poço. A produtividade de cada poço também contribuiu para a redução.
Uma plataforma flutuante FPSO, estruturada para ser conectada a 30 poços, com produção de 5.000 barris em cada um, teve que ser revista para uma quantidade menor de poços, já que o primeiro tem rendido média de 20 mil barris por dia.


As perspectivas do PAC 2

Coluna Econômica - 30/09/2011
No 8º Fórum de Economia da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, uma das apresentações foi de Muniz Barretto de Carvalho, Secretário do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), sobre o chamado PAC 2 – para o período 2011-2014.
O PAC 1 não foi nenhum elixir milagroso. Consistiu em dois pontos centrais. O primeiro, o de coordenação de investimentos públicos e privados, com acompanhamento permanente. O segundo, o de impedir que as verbas de investimentos fossem contingenciadas – uma constante da política econômica brasileira até o primeiro governo Lula.
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Até 2006, a FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) da economia era inferior a 17% sobre o PIB. Nos anos seguintes pulou para 17,4%, 19,1%, 16,9%, 18,4% e 19,5% em 2011, ainda insuficiente mas mostrando avanços.
No caso de infraestrutura, de 2007 a 2011 os investimentos cresceram a uma taxa superior a 13% ao ano.
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O trabalho esclarece algumas controvérsias a respeito do balanço do PAC 1.
Até 2010 houve a conclusão de 82,5% dos projetos – ficaram para os anos seguintes as grandes obras, como as usinas do Madeira, refinarias do Nordeste, COMPERJ, Transnordestina e o Eixo Norte do São Francisco. Em relação aos desembolsos, dos R$ 619 bilhões previstos, 94,1% foram realizados até 2010.
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O PAC 1 consistiu em uma lista de obras consideradas prioritárias. No caso do PAC 2 tenta-se uma visão integrada de cinco eixos em torno de programas-mãe.
Por exemplo, no Programa Cidade Melhor entram a Comunidade Cidadã (equipamentos sociais e urbanos), Minha Casa Minha Vida (habitação, urbanização e financiamento), Água e Luz Para Todos, Transportes e Energia. Define-se o local e apresenta-se o conjunto de programas.
O valor total dos investimentos previstos é da ordem de R$ 955 bilhões, dos quais R$ 708 bilhões de obras concluídas até 2014 e o restante após 2014.
No 1o semestre de 2011 houve R$ 86,4 bilhões em investimentos. A subdivisão define bem a composição dos investimentos: R$ 24,4 bi foram de estatais, R$ 13,4 bi do setor privado, R$ 1,2 bi de financiamento ao setor público, R$ 35 bi de financiamento habitacional, R$ 9 bi de OGU Fiscal (Orçamento Geral da União), R$ 3 bi de Minha Casa Minha Vida e R$ 0,4 bi de contrapartidas de estados e municípios.
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EM relação ao PAC 1, os investimentos em infraestrutura passarão de R$ 247 bi para R$ 380 bi, com crescimento de 54%; e os na indústria de R$ 387 bi para R$ 614 bi, aumento de 59%
Definiram-se também aprimoramentos gerenciais, como a ampliação da parceria com o setor privado, aumento da produtividade com maior capacidade gerencial e operacional, aprimoramento dos modelos setoriais, qualificação de mão de obras e melhoria do processo construtivo das obras e sustentabilidade ambiental.
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O aumento maior será em ferrovias, que pulará de R$ 20 bi (investimento ridiculamente pequeno) para R$ 60 bi. Em portos o salto será de 260%, mais ainda assim saindo de irrisórios R$ 5 bi para pequenos R$ 18 bi.
O pesado dos investimentos será em petróleo e gás, com R$ 378 bi e na energia elétrica, com R$ 139 bi.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011


Esta piscina é tão ecológica que até parece um lago
GizModo
Publicado em 20 de Setembro de 2011



Piscinas são ótimas para se refrescar, mas elas não são muito ecológicas. Elas usam muita eletricidade (para bombear água), são mantidas limpas com produtos químicos fortes, e criam uma paisagem artificial que parece dizer “adoro vinil”. Mas não precisa ser assim. 

Cada vez mais empresas de piscina estão criando piscinas Eco-Smart que simulam um lago no seu quintal. Estas piscinas ecológicas são criadas para terem a mesma topologia do seu quintal, e tons de pedra e madeira que dão à piscina um visual mais natural. 

Estas piscinas “verdes” também têm um sistema de filtragem inteligente com ozônio, que mantém a água limpa e renovada sem usar produtos químicos fortes como o cloro. Mesmo as bombas de velocidade variável, que usam muito menos eletricidade, ajudam o meio-ambiente. E você não precisa instalar a piscina no meio do quintal para maximizar a exposição ao sol: ela pode ficar numa área mais reservada e ser aquecida usando painéis solares – o que deixa sua piscina ainda mais interessante, e vale cada centavo ecológico que você investir. 

21.09.2011

Empresa pede que consumidor não gaste

%POR REGINA SCHARF # EM DE LÁ PRA CÁ
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Foto de Hajime Nakano/ Flickr
Foto de Hajime Nakano/ Flick
O que pensar de uma empresa que fatura US$ 400 milhões anuais e que lança uma campanha pedindo que seus consumidores pensem duas vezes antes de…comprar um produto novo? É exatamente o que está fazendo a marca californiana de roupas esportivas Patagonia.
Há duas semanas, discuti aqui o caso daTom’s Shoes, que doa um par de calçados a cada alpargata vendida. Pois a iniciativa da Patagonia é ainda mais surpreendente. Ela associou-se ao site eBay, maior intermediário de transações de produtos usados na web, para estimular a venda de calçados e roupas de segunda mão. Agora, no portal da empresa, é possível comprar tanto roupas esportivas novas quanto oferecer lances por agasalhos ou calçados, às vezes surrados, às vezes nem tanto, oferecidos por usuários da marca.
A iniciativa é uma extensão do programa Common Threads, lançado pela Patagonia  em 2005. A empresa montou uma estrutura para receber de volta roupas velhas e gastas da marca, que são então enviadas para recicladores  (em muitos casos, em outros países). Cerca de 45 toneladas de roupas foram devolvidas à empresa desde então – e a sua reciclagem deu origem a 34 toneladas de vestimentas novas. É possível entregar as roupas a reciclar nas lojas da marca ou enviá-las pelo correio, para reduzir a pegada da iniciativa de reciclagem.  A empresa tem anunciado que até o fim do ano deverá estender esse serviço a todos os modelos de roupas que comercializa. A Patagonia também promete costurar e remendar roupas que vendeu, de graça ou por um preço módico, conforme o caso.
“Nós somos a primeira empresa a pedir que os consumidores assumam um compromisso formal e sejam parceiros no esforço de reduzir o consumo e manter seus produtos longe dos aterros ou incineradores”, diz Yvon Chouinard, dono da marca e principal executivo da empresa.”O programa pede que os consumidores deixem de comprar aquilo de que não precisem. Se realmente precisarem, que comprem algo que vá durar muito – e que consertem o que estragar e revendam o que já não usam. Finalmente, que reciclem o que estiver realmente rasgado”.
Pode parecer papo de marketeiro, mas o fato é que a Patagonia tem demonstrado suas boas intenções há anos e a lista de iniciativas pró-sustentabilidade da empresa é extensa.  Ela comprometeu-se publicamente a destinar 1% do valor total de suas vendas a entidades ambientalistas. Com isso, desde 1985, ela doou US$ 40 milhões a mais de mil organizações. Além disso, seus produtos são diferenciados – como os jeans feitos com fibras de garrafas PET ou algodão orgânico. O próprio Chouinard vinha pensando o conceito de desaceleração do consumo há tempos. Em 2004 ele já havia publicado um texto com o título “Não compre esta camisa a menos que você precise”, onde ele cita Peter Senge, professor do Massachusetts Institute of Technology  – “andamos como sonâmbulos rumo ao desastre, indo cada vez mais rápido para chegar onde ninguém quer ir”.
Qual a sua opinião sobre a iniciativa da Patagonia? É uma excentricidade deslocada do modelo vigente ou é uma idéia que  poderia prosperar e ser adotada por outras empresas?


O VALOR ECONÔMICO DO TEMPO LIVRE

LADISLAU DOWBOR

O tempo é o nosso principal recurso não renovável. O seu desperdício, por nós mesmos ou por terceiros, é monumental. Todos sabemos que time is money, mas poucos pensam nessa comparação. O tempo é o tempo da nossa vida. Dinheiro perdido pode ser recuperado. Já a vida...
Keynes tinha uma visão muito simpática do amor pelo dinheiro: “O amor do dinheiro como posse – distintamente do amor do dinheiro como meio de obter os prazeres e realidades da vida – será reconhecido pelo que é, uma morbidez um pouco repugnante, uma destas propensões semicriminais, semipatológicas que entregamos com um tremor aos especialistas em doenças mentais”.
Não que desconheçamos o valor econômico do tempo. O empresário calcula rigorosamente os tempos dos seus empregados, porque o tempo dos seus empregados é o seu dinheiro. Kuttner relata a visita que fez a um centro de telemarketing, onde as moças têm direito a apenas 2 segundos entre uma chamada e outra: passados os 2 segundos, começam os descontos. O documentário The Corporation mostra empresas onde são registrados até centésimos de segundo das operações de costureiras para as grandes marcas. Ninguém marca em segundos o tempo que passamos na fila do banco.
Ao pensarmos o tempo livre como categoria econômica, entramos numa visão moderna da economia, centrada no resultado final, na qualidade de vida. Em termos econômicos, isso significa darmos valor tanto ao tempo, que não é diretamente contratado por um empregador – e que as empresas consideram gratuito, pois não lhes custa –, como ao tempo dedicado a atividades socialmente úteis, que não entram, contudo, no circuito monetário, como os cuidados com a família, o embelezamento dos nossos jardins, a arborização das nossas calçadas por vizinhos dedicados e assim por diante, uma vez que o prazer da vida tem valor. Dormir bem também tem valor. É o nosso tempo.
Há uma dimensão surrealista na irracionalidade que envolve a má distribuição dos esforços. Uma parte da sociedade está desesperada por excesso de trabalho e outra, por não ter emprego. Um mínimo de bom senso na distribuição de esforços institui um dos objetivos centrais da gestão social. Em termos de regulação da economia do tempo, chega-se à conclusão de que o mercado constitui um mecanismo estruturalmente insuficiente de alocação dos recursos do trabalho, exigindo soluções sistêmicas articuladas. Não há nada de novo nessa constatação. Mas, na visão que aqui sugerimos, ao darmos um valor econômico ao tempo social, o desemprego deixará de ser visto apenas como situação de desespero lamentável, restrita aos pobres diabos que não conseguiram diplomas e “empregabilidade”, para ser visto como um custo para a sociedade: o valor do tempo desperdiçado pode ser muito maior do que o custo de medidas de organização que assegurem um trabalho útil para todos.
Calcular o valor econômico do nosso tempo livre pode ter grandes impactos sobre a forma de organizarmos as decisões econômicas e sobre a priorização dos investimentos, além de resolver o problema da inclusão no PIB de categorias não monetárias. A forma mais prática de explicitar a metodologia é aplicá-la a um caso concreto, a cidade de São Paulo. 
São Paulo tem 11 milhões de habitantes. O PIB da cidade é de 320 bilhões de reais. Dividindo o PIB pela população, temos um PIB anual per capita de 29 mil reais, um montante muito elevado. Mas o que nos interessa aqui é que, a partir dessa cifra, podemos calcular o valor da hora per capita. Dividindo 29 mil reais por 8.760 horas, que é o número de horas num ano, teremos um valor de 3,30 reais. Em termos gerais, esse seria o valor médio da hora do paulistano.
Fixar um valor básico para o tempo do paulistano nos permite chegar a uma visão mais realista das contas econômicas. Essencialmente, permite que se dê um valor equivalente a um conjunto de atividades que não contabilizamos simplesmente porque não custam dinheiro ou não ocasionam registro de trocas monetárias. O que segue é uma aplicação possível da metodologia para a cidade. Não se trata aqui de substituir o conceito de Produto Interno Bruto, e sim de dar visibilidade econômica ao conjunto de atividades não contabilizadas, pois são atividades que absorvem tempo. Portanto, mediante a equivalência de valor à hora do paulistano, passamos a complementar o PIB.
É notório que o tempo perdido no transporte é um desperdício. Do ponto de vista do PIB, o fato de tantas pessoas serem obrigadas a comprar carros e a utilizá-los em permanência – pela fragilidade dos serviços de transporte coletivo – aparece como conta positiva no cálculo do PIB, tanto pela produção de automóveis, como consumo de combustíveis, investimentos, acidentes e hospitalizações e assim por diante. Desde 2003, o Banco Mundial passou a descontar os custos gerados com saúde no cálculo da contribuição da produção automobilística para o PIB. No nosso caso, de forma mais ampla, consideraremos que os 6 milhões de pessoas que constituem a população economicamente ocupada da cidade são penalizadas com a perda de tempo no transporte, já que não descansam, não produzem e nem investem (a não ser os raros que, por exemplo, aproveitam o trânsito parado para estudar idiomas e atividades semelhantes). Uma hora perdida por 6 milhões de ativos são 6 milhões de horas perdidas. Se calcularmos o valor da hora perdida em 3,30 reais, são 19,8 milhões de reais perdidos por hora.
De acordo com as pesquisas do movimento Nossa São Paulo, o paulistano ativo médio perde 2 horas e 40 minutos no trânsito por dia. Isso representa um custo-tempo de 52,8 milhões de reais por dia, o que expressa a dimensão do prejuízo causado à cidade pela ineficácia das suas opções de transporte. Outra forma de considerar esse cálculo está ligada à política de investimentos. Já que em São Paulo, arredondando, 20 milhões de reais por hora de tempo são perdidos no trânsito, isso significa que, se investimentos no metrô e corredores de ônibus economizarem meia hora por dia do nosso tempo, são 10 milhões de reais ganhos por dia. Como um quilômetro de metrô custa aproximadamente 200 milhões de reais, no cálculo do retorno sobre o investimento devemos levar em conta não só o retorno pelos bilhetes que as pessoas irão pagar, mas também as economias difusas para toda a sociedade. Os 10 milhões economizados por dia cobrem um quilômetro de metrô a cada 20 dias.
Não incluir esse cálculo na avaliação dos investimentos significa fazer um cálculo errado. Do ponto de vista microeconômico é até correto, pois quem faz o investimento visa apenas o dinheiro dos bilhetes – e as economias realizadas pelo conjunto da população não enchem o bolso dos investidores. Mas, do ponto de vista da produtividade sistêmica do território, a racionalidade geral torna-se mais elevada, pois o fato de as pessoas desperdiçarem menos tempo e dinheiro em transporte melhora a situação de todos. Contabilidade incompleta é contabilidade errada.
Outra forma de aproveitar a equivalência de valor do tempo consiste na avaliação do desemprego. Em São Paulo temos uma população ativa da ordem de 6 milhões de pessoas, com um desemprego aberto de 7% (critério IBGE) e um desemprego que inclui o desemprego por desalento da ordem de 14% (critério DIEESE). Este segundo critério é sem dúvida mais realista para uma economia como a nossa. 14% de 6 milhões são 840 mil desempregados. Independentemente dos custos humanos, podemos avaliar, em horas de trabalho perdidas, os danos para a cidade. Se calcularmos as perdas diárias como representando 8 horas de potencial trabalho não realizado, temos uma perda diária de 6,72 milhões de horas. Multiplicado por R$3,30, isso representa R$22,2 milhões desperdiçados por dia.
Do ponto de vista propositivo, quando se toma a iniciativa de criação de serviços de manutenção urbana – como saneamento básico, arborização, promoção de autoconstrução e reforma de habitações, etc. –, pagos com salário mínimo, o custo de 22 milhões por dia se transforma em investimento na qualidade de vida urbana. Já dizia Celso Furtado que, quando a produção de uma pessoa é zero, qualquer atividade é lucro. Na realidade, tomar consciência de que cada hora perdida de atividade representa um custo facilita a compreensão e aceitação das políticas de garantia do emprego. Assim, atribuir um valor equivalente à hora do paulistano permite avaliar melhor como estamos gastando o dinheiro. A organização do processo de garantia do emprego não representa hoje maiores mistérios, política implementada na Índia durante 10 anos no Estado de Maharashtra, com bons resultados, e que hoje está sendo estendida para todo o país.
Nem todos irão querer trabalhar por um salário mínimo. Mas muitos desempregados com boa formação – e são muitos mesmo – podem ser absorvidos na educação e na saúde, apesar dos protestos que essa solução gera hoje, por promover o inchaço da máquina pública. Na realidade, o desempregado tem seu preço – e tomar consciência de que nos custa mais de 20 milhões de reais por dia poderia levar a cidade a ser mais ativa em termos de promoção de emprego.
Outra forma de aproveitar a equivalência de valor do tempo é a avaliação do trabalho prestado por voluntários. Para muitos, trata-se de atividade pouco importante, “marginal” do ponto de vista econômico. O exemplo da Pastoral da Criança é significativo. A Pastoral trabalha com 350 mil voluntários, e está na origem, nas regiões de atividade, de 50% da redução da mortalidade infantil e de 80% da redução das hospitalizações. Em termos de contabilidade tradicional, essa atividade não é positiva: pelo contrário, ao reduzir o consumo de medicamentos, uso de ambulâncias e dias de hospitalização, reduz o PIB. E a atividade, como não é remunerada, não aparece no PIB como contribuição positiva. Se estimarmos o trabalho das voluntárias da Pastoral dedicado a crianças em 1 hora por dia, a R$3,30 a hora, podemos avaliar a contribuição da pastoral como equivalente a R$1.155.000 por dia.
Não temos estimativas do volume de horas de trabalho voluntário na cidade de São Paulo. Mas seguramente é muito significativo, e a sua avaliação através da equivalência hora permitiria ter uma aproximação muito mais realista do valor das atividades na cidade. De toda forma, esse cálculo passará a equilibrar melhor as decisões políticas na cidade, inclusive porque o voluntariado se expande no país, com o crescimento das organizações da sociedade civil que o utilizam intensamente.
Outro potencial importante da equivalência valor-hora encontra-se na sempre difícil avaliação do trabalho não remunerado nas famílias. No exemplo clássico, a pessoa que plantou, colheu e vendeu o pé de alface realizou uma atividade econômica, enquanto a pessoa que foi comprar na feira, transportou, lavou, preparou e serviu esse mesmo alface não contribuiu para economia. Mais ainda, a pessoa que comprou, lavou, preparou e serviu esse mesmo alface num restaurante contribui sim para economia. A dificuldade de se avaliar uma atividade como essa é amplamente reconhecida. Mas avaliar o tempo de trabalho doméstico realizado nos domicílios é hoje uma tarefa relativamente simples e familiar para os estatísticos que fazem, por exemplo, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Não é complexo fazer um levantamento por amostragem de quanto tempo as mulheres gastam na sua segunda jornada.
A Síntese de Indicadores Sociais 1996-2006, do IBGE, comenta que “com relação à jornada média semanal despendida em afazeres domésticos, verifica-se que as mulheres trabalham mais que o dobro dos homens nessas atividades (24,8 horas).” Se estimarmos – enquanto não se realiza a amostragem correspondente para São Paulo – que vale para a cidade de São Paulo a média brasileira, podemos calcular o valor dessa contribuição. O cálculo é simples: dos 11 milhões de pessoas da cidade, subtraímos 2,7 milhões de pessoas de menos de 15 anos e 1,3 milhões de pessoas de mais de 60 anos, restando 7 milhões de adultos em idade de trabalho. A metade dessa população representa 3,5 milhões de mulheres (na realidade, seria um pouco mais, em razão da  presença da população feminina ser maior, mas isso não muda significativamente o cálculo) que despendem 24,8 horas semanais, 3,5 horas por dia, em afazeres domésticos. Com o valor de R$3,30 por hora, 3,5 milhões de pessoas com trabalho de 3,5 horas por dia, são R$40,4 milhões de reais por dia. Como na família se come e se lava pratos inclusive aos domingos, multiplicando os R$40,4 por 365 dias, as mulheres da cidade de São Paulo contribuiriam com R$14,7 bilhões para a economia da cidade, a se acrescentar aos R$320 bilhões do PIB calculado pelo SEADE.
Utilizar o valor equivalente da hora do nosso tempo pode ter outras utilizações. Por exemplo, perdemos tempo na fila do banco. Do ponto de vista do banco, a hora do funcionário é paga, a hora do cliente na fila é de graça. Portanto, compensa ter menos funcionários e mais filas. Na economia isso se chama externalização de custos. Há limites, evidentemente, e por vezes manifestações de indignação de clientes. Mas, se os outros bancos adotam a mesma política, a maioria suspira na fila ou contrata rapazes cuja profissão será ficar na fila. Não é complicado calcular, por agência, multiplicando as pessoas pelo tempo de espera, o valor perdido por todos, tempo em que não se descansa nem se trabalha. E o rapaz fica na fila em vez de estudar ou de se divertir.
Um vetor semelhante de custos pode ser calculado a partir do tempo médio de espera pelo ônibus. Do ponto de vista da empresa transportadora, o ideal é ter um ônibus bem cheio, o que rentabiliza o trajeto. Portanto, é bom demorar um pouco, para que o número de passageiros nos pontos aumente. O tempo médio perdido na espera pelo transporte coletivo pode ser calculado sem muita dificuldade, e multiplicado pelo valor equivalente da hora do paulistano. Ao se calcular a disponibilização de meios coletivos de transporte, a contabilidade correta exige, então, que se leve em consideração os custos sociais completos. Uma vez mais, o custo para o cidadão, em termos de tempo perdido, não sai do bolso da empresa, e o tempo ganho não o enche. A implicação evidente é que não basta a soma do cálculo microeconômico das empresas, é preciso acrescentar a avaliação da produtividade sistêmica para a cidade no seu conjunto.
Seria de grande utilidade avaliar a produtividade dos sistemas públicos ou privados que envolvem as burocracias em geral pelo critério do valor do tempo. Para determinados impostos, calcula-se o custo/benefício dos diferentes impostos. Alguns geram mais trabalho para a administração pública do que os recursos gerados. Mas é preciso incluir também os custos para o cidadão, em termos de tempo perdido. Se multiplicarmos o número de contribuintes e o tempo de preenchimento ou de filas pelo equivalente valor básico da hora do cidadão, teremos o custo social da cobrança calculado de maneira mais correta. Determinados documentos ou procedimentos burocráticos exigem horas de espera. Isso é um custo. Ao aplicarmos a contabilidade das horas perdidas, poderemos verificar melhor a produtividade de se comprar equipamento mais avançado para reduzir as filas ou simplificar impostos.
Os exemplos podem evidentemente ser multiplicados. Quanto vale o tempo de espera nos serviços de saúde? Quanto vale o tempo perdido pelo cidadão – mas não pela empresa – ao discar dezenas de vezes para um número onde atende uma voz misteriosa que nos informa: “a sua ligação é muito importante para nós”. Importante para o misterioso “nós”, mas evidentemente um custo direto para o bolso do usuário. Quanto custa o serviço que solicitamos, e que será atendido “em horário comercial”, em que temos de ficar em casa esperando? Porque o tempo dos fornecedores não pode ser desperdiçado, o nosso sim. O telemarketing calcula os seus custos em termos de funcionários e de tarifas telefônicas. E o tempo perdido por milhões de potenciais clientes? Apenas uma proporção ínfima das chamadas resultará em venda, e, por isso, as chamadas devem ser aos milhões. Alguns minutos de milhões de pessoas representam um custo de tempo perdido – sem falar da irritação – muito significativo. Outras formas de publicidade, em particular o spam, representam mundialmente centenas de milhões de horas perdidas apagando bobagens, nas quais somos distraídos do que estamos fazendo, com perda de produtividade geral. O custo da saúde será mais completo ao incluirmos os dias perdidos de trabalho com doenças. Levar em conta esse custo do tempo tornaria muito mais clara a produtividade de se investir na saúde preventiva.
Particular atenção deverá ser dada aos cálculos que realizamos sobre a redução da jornada de trabalho. Nos cálculos dos opositores, como consideram sem valor a hora fora do trabalho comercialmente remunerado, assegurar as quarenta horas semanais – e, portanto, dois dias plenos de descanso para os trabalhadores – representaria uma queda de produção. Naturalmente, porque não valorizam o tempo passado com a família, o merecido descanso, o lazer. Na realidade, o cálculo que fazem é errado inclusive no plano estritamente microeconômico, pois a redução da jornada, onde foi introduzida, expandiu outras atividades econômicas, mais ligadas a lazer, cultura, esportes e semelhantes. Mas, na metodologia que aqui focamos, aumentar o lazer não reduz a produção, pois passamos a calcular o valor da hora livre como valor também para a população.
Optamos aqui pelo mais simples: o valor do PIB dividido pela população nos dá o PIB per capita anual. Ao dividirmos este pelas horas do ano, obtemos o valor per capita da hora. Mas podemos pensar em contas diferentes. Steven Davis, nos Estados Unidos, partiu do valor médio do salário horário, descontados os impostos, e atribuiu esse valor à hora de lazer, algo como 13,2 dólares. Um ganho de 5 horas de lazer por semana significaria 3.300 dólares por trabalhador e por ano. O importante, em termos metodológicos, é a cifra ser claramente compreensível por não especialistas. O per capita anual é uma cifra compreensível e assimilada pelo grosso da população. O per capita por hora é igualmente transparente. Poderíamos utilizar como divisor apenas a população ativa em vez da população total ou as horas médias de trabalho em vez das horas totais do ano – o que causa problemas porque estamos avaliando as horas totais, incluindo em particular o tempo livre. Isso não mudaria o sentido geral da avaliação, apenas dificultaria a compreensão.
Por outro lado, a metodologia aponta para a importância de realizarmos regularmente pesquisas sobre o uso do tempo na sociedade. No plano internacional, são os estudos do time budget, que ainda falta introduzir no Brasil. Trata-se do nosso bem mais precioso, o tempo da nossa vida. Entender como o utilizamos e o custo do seu desperdício é essencial para começarmos a organizar as nossas atividades com qualidade de vida, além de atualizarmos as nossas contas.