segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Está na hora de estimular encontros ao vivo e em cores'


Carta aberta aos pais de adolescentes

Thais Maluf, PSICÓLOGA DO PROAD (PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO E ATENDIMENTO A DEPENDENTES) DA UNIFESP - O Estado de S.Paulo

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- Um estudo do Ibope Mídia divulgado na terça-feira mostrou que 29% dos jovens com idade entre 10 e 17 anos preferem conversar com amigos e familiares pelo computador do que pessoalmente. O resultado não surpreende, pois essa é uma geração que cresceu na era da informática. É evidente que a internet facilita a comunicação e traz inúmeras possibilidades em termos de pesquisa, trabalho e até de conhecer novas pessoas. Isso atrai os jovens. Ainda mais porque eles estão numa faixa etária de transformações - físicas e comportamentais. O encontro virtual suaviza algumas dificuldades que eles possam encontrar pelo caminho, como problemas de relacionamento, timidez ou medo de se mostrar. Enquanto o uso do computador não prejudicar o lado social da pessoa, isto é, ela continuar se relacionando no mundo real, não há com o que se preocupar. Não acredito que o diálogo entre as pessoas esteja com os dias contados com o advento da internet. Elas vão utilizar mais o serviço de e-mail? Sim. Participarão de diferentes redes sociais? Sim. Mas isso não significa que as relações humanas estejam em xeque. O perigo da dependência surge quando a vida da pessoa se dá no âmbito virtual. Por isso, a orientação dos pais é essencial para impor limites aos mais novos. Utilizar o computador deve ter, sim, hora para começar e acabar. Deixar um filho diante do computador, isolado em casa, não é a melhor forma de protegê-lo do mundo, por exemplo. Quando for conversar com seu filho prefira o telefone, ou melhor, o contato pessoal. Está na hora de estimularmos encontros "ao vivo e em cores". A realidade é muito mais dinâmica do que 140 toques.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Água de tratamento de esgoto é adubo


Na Austrália e em Israel água de reúso já é amplamente aplicada em lavouras. Sabesp pode fornecer insumo

Clique para AmpliarESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE LINS - Água rica em notrogênio e fósforo

Divulgação

ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE LINS - Água rica em notrogênio e fósforo

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Tramita no Ministério do Meio Ambiente um projeto que pretende liberar, para irrigação de lavouras, o uso de água resultante do tratamento de esgoto. Esta água, repleta de material orgânico, é considerada um bom adubo. Ainda não há previsão de quando a tecnologia poderá ser empregada na agricultura, mas na Austrália e Israel, por exemplo, já é amplamente utilizada.

Desenvolvida pela Sabesp, em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), a técnica começou a ser estudada em 2001 e já foi aplicada experimentalmente num campo de 7 hectares em Lins (SP). "A água proveniente do esgoto tratado tem altos níveis de nitrogênio e fósforo", diz a coordenadora do projeto, professora Célia Regina Montes. Nitrogênio e fósforo, juntamente com o potássio, são os três principais componentes de fórmulas de adubos.

Conforme a Sabesp, cem estações de tratamento em todo o Estado estão aptas a fornecer a água de reúso resultante do tratamento de esgoto. Até 2012, a expectativa da companhia é a de que 400 estações desenvolvam a prática. Para o superintendente do órgão, Luiz Paulo de Almeida Neto, a técnica também colabora com o meio ambiente.

"Um dos pontos mais vantajosos do reúso da água proveniente do tratamento de esgoto é o aspecto ambiental. Quando o resíduo não é reutilizado, ele volta para os cursos d"água com altos níveis de substâncias que colaboram para a poluição", ressalta.

"Esta água é indicada para a produção de café torrado, cana-de-açúcar, álcool, açúcar, milho e feno", afirma Célia. Inicialmente, a técnica deverá atender às produções mais próximas às estações. É fundamental que o produtor tenha, porém, um sistema de irrigação instalado. A Sabesp defende que a prática de reúso da água seja regulamentada para que a aplicação obedeça a um limite máximo de litros por metro quadrado. O uso excessivo do esgoto tratado pode poluir o lençol freático ou, até mesmo, voltar para o leito do rio.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O papel pode morrer; a leitura, não

por Daniel Piza

Nunca se produziram tantos livros no mundo. O maior sucesso recente da literatura mundial foi uma série de romances juvenis, Harry Potter, cujos volumes têm mais de 700 páginas cada um. O índice de leitura no Brasil aumenta ano a ano. O melhor livro de ficção nacional do último decênio, Dois Irmãos, de Milton Hatoum (2000), já soma cem mil exemplares vendidos; é um sucesso de crítica e público. Feiras literárias como a de Paraty unem grandes autores em salas lotadas. Imprensa? As duas mais sofisticadas revistas de língua inglesa, The Economist e The New Yorker, que se caracterizam pelos textos extensos e análises críticas, hoje têm a maior circulação de sua história: mais de 1 milhão de exemplares cada uma. No Brasil, nunca se falou tanto em jornalismo literário, nome de uma coleção de livros (que teve títulos como A Sangue Frio, de Truman Capote, e Hiroshima, de John Hersey, na lista dos mais vendidos em não-ficção), e nunca se tentou praticá-lo tanto. Entre os estudantes, o jornalismo cultural passou a ser o mais procurado, em vez do político e do econômico.
Quem diz que textos em papel estão morrendo, portanto, está desdenhando fatos. Se há uma queda geral no nível cultural, se hoje vemos até pessoas das artes e das idéias com formação geral deficiente, não é por causa de alguma incompatibilidade fundamental entre o homem contemporâneo e a superfície impressa. O que há é uma perda do valor desse conceito, “formação”, num mundo tão bombardeado de informações e de tantas horas perdidas em trânsito, distração e consumismo. Pois quem deseja tomar contato com o que se escreveu de melhor no passado tem ampla oferta de produtos e eventos. Editoras como Cosac Naify, Companhia das Letras, 34 e L&PM têm feito ótimo trabalho de reedições e novas traduções de clássicos, inclusive com vendas em bancas de jornal a menos de R$ 10 o exemplar. Assim como CDs, DVDs e os sites com vídeos e áudios, o acervo de textos antigos é hoje maior do que já foi em qualquer era anterior; temos Shakespeare a um clique no mundo todo.
Sim, a circulação de jornais tem caído nos últimos anos, sobretudo nos países ricos, como EUA, e boa parte disso pode ser atribuída à concorrência de outros meios de comunicação; a televisão, por sinal, está tão preocupada com a internet quanto a imprensa escrita. Para o sujeito que trabalha e tem família, há uma sensação de que está informado ao longo do dia: escuta rádio no caminho, fica diante do computador o dia inteiro, há TVs com canais de notícia 24h em todos os lugares, volta para casa e ainda consome mais jornalismo até pelo celular. Como não querer que nesse mundo pulverizado o jornal diário em papel não perca espaço? Isso, porém, não significa que ele não vá continuar a ser lido por uma minoria, ainda que em suporte digital (em aparelhos como o Kindle, que foi redesenhado justamente para baixar jornais), nem que a leitura de livros e revistas vá deixar de ser um hábito distintivo do Homo sapiens. Na convergência de mídias, nada elimina o que houve antes: apenas absorve e transforma – e, se a humanidade quiser, pode até ser para melhor.